Histórias, lugares e factos – O fenômeno da psicoadaptação

Analisando alguns dos mecanismos presentes em nossa mente, é interessante falar do fenômeno inconsciente chamado psicoadaptação. Por um lado, trata-se de algo importantíssimo para o bom funcionamento da nossa mente, por outro, se não for bem gerida, pode aprisionar e prejudicar o ser humano.

Como o próprio nome já indica, psicoadaptação é a adaptação aos estímulos que geram tanto a dor, como o prazer. É por causa dela que nos adaptamos às mudanças que ocorrem nas nossas vidas, como um horário de trabalho diferente, hábitos alimentares, morada, dentre outras coisas. Mas o lado negativo da psicoadaptação , é que assim como nos adaptamos às coisas que são necessárias, também nos adaptamos à dor, às necessidades e fragilidades dos outros. O que nos torna muitas vezes, insensíveis. À medida que somos expostos aos estímulos, deixamos de ter prazer neles. Com o tempo, perdemos o encanto nas pequenas coisas da vida, quando estas fazem parte de nossa rotina. O estímulo visual vai fazendo com que sutilmente, percamos a capacidade de instigar a emoção.

Tanto crianças, como homens e mulheres são vítimas deste fenômeno. É por isso que os miúdos sempre querem ganhar os brinquedos novos que são lançados ao mercado. Enquanto os homens, após comprar um carro tão desejado, depois de alguns meses já sentem um prazer menos intenso comparando com as primeiras vezes em que conduziram o carro. A moda sobrevive porque as mulheres psicoadaptam-se às roupas, acessórios, sapatos, gerando insatisfação após um período. Até mesmo no decorrer da história mundial podemos identificar a ação deste fenômeno. Um bom exemplo foi o holocausto judeu. Com o passar do tempo, vendo e vivendo a perseguição e confinamento dos judeus nos campos de concentração, os soldados alemães psicoadaptaram-se à dor daquele povo. Com o avanço da guerra, nem o gemido das crianças judias comoviam os soldados. E foram responsáveis pela morte de milhares de pessoas.

A psicoadaptação é fundamental para o bom funcionamento da mente, para não perpetuar uma angústia. Gera conforto emocional diante da morte de alguém ou uma mudança necessária na vida de uma pessoa. Entretanto, precisamos aprender a reciclar esse mecanismo com sabedoria. Senão, os compromissos diários gerarão excessiva adaptação,  fazendo com que percamos a alegria nas pequenas coisas da vida, mas que nos deixam alegres, como usar as roupas que temos, brincar com o cão, conversar com os avós ou jogar bola com os filhos. Com isso, nos tornaríamos pessoas consumistas e com um vida triste, com apenas alguns momentos felizes.

Crónica de Bárbara Delazeri
Histórias, lugares e factos