It ain’t nobody bineshh – Miguel Bessa Soares

Confesso que tenho um mau Inglês, mais conhecido pelo Sócrates English, mas asseguro que sempre fiz os meus exames de Inglês em dias de semana, porque para mim o Domingo é para descansar. De qualquer forma não me enganei no título da crónica, escrevi exactamente ao que me soa a voz da Rihanna ao dizer esta frase.
Que saudades eu tenho das músicas dos anos 80 e 90, para sucesso ainda que parcial desta crónica peço-vos que desconsiderem músicas com letras da profundidade de Life is Life, nana na na na, life… is life nana na na na…
Mas as músicas dos anos 80 e 90 exigiam dos artistas, exigiam ter alguém que tocasse instrumentos, exigiam perder algum tempo para a letra ter uma certa profundidade, para ter harmonia, e era exigido aos artistas alguma perfeição na dicção.
Nos dias de hoje tudo é considerado música. Eu próprio por vezes sinto-me tentado a gravar o som da minha máquina de lavar na altura da torção, com certeza será alguma avaria que um técnico diria: “Meu Senhor o seu problema é do calcário”, mas a verdade é que ela tem uma batida digna de uma discoteca, e um provável garantido disco de ouro ou MTV Award. As músicas soam todas semelhantes, com a agravante de todas parecerem recorrer à mesma caixa de ritmos.
Depois as letras são um vazio de emoções e muitas vezes ditas de forma estranha. No caso Rihanna deita o Inglês por terra e diz a palavra Business como se tivesse aflita, com milho de pipocas no céu da boca ou na garganta.
Fazer hoje uma música torna-se uma coisa simples, grava-se uma frase para o microfone e deixa-se o estúdio. No estúdio um técnico soma à frase os sons da tal “caixinha de música” e depois tal e qual num programa de edição de texto faz pura e simplesmente copiar e colar, deixando a música em algo que soará a:
It ain’t it ain’t it ain’t nobody bineshh
A canalha compra, as rádios passam-na e o sucesso é garantido.
Rihanna, eu sei que me estás a ler,  vou dar-te uma dica –  Lei-Or quando dava entrevistas falava athin e dizia shopa de masha, mas quando cantava envergava o seu vozeirão de diva e dizia que já foi ao Brasil, Praia e Bissau, Angola , Moçambique, Goa e Macau, ai ela já foi até Timor “já fui um Conquistador”. Com dicção perfeita, com voz de cantora, sem recorrer a retoques, ou a corta e cose, e uma letra que tem a profundidade da nobre história de um país.
Põe os olhos nisto.
Ainda há alguém que compre cds? Moços, moiçoilas, ouçam as coisas antes de comprar, e tenham presente que é aos 13-14 anos que o vosso cérebro assimila as coisas que o vai moldar para o resto da vida.

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário