Lá fora é mais bonito – Maria João Costa

A definição de voluntariado em Portugal está associada a “um ponto a favor no teu currículo”, toda a gente diz que fez, diz que é bonito e muito importante para o desenvolvimento de cada um enquanto ser humano. E inventam. Inventam datas, locais, funções e, conseguem a proeza, de inventar lições de vida.

Depois há os que fazem do voluntariado férias com os amigos. E há os que são expulsos, mas isso só acontece fora de Portugal, já são outros territórios. E estão na moda.
Está na moda dizer (falta fazer), que se tem o sonho de pegar na mochila às costas e ir para um país pobre, com mosquitos e sem casa de banho, ajudar as crianças subnutridas a escrever e a ler; está na moda dizer que já se inscreveu num site de voluntariado internacional; está na moda ser altruísta, mas só fora do país. Está na moda fazer Erasmus de voluntariado, talvez porque é mais barato, e pode durar mais do que um ano; talvez porque seja uma forma fácil e bonita de adiar o desemprego (já perdeu a beleza toda).

E cá dentro? Cá dentro não é tão bonito. Não é visto como um ato de coragem, de aprendizagem, nem é motivo de exemplo para ninguém. É uma perda de tempo, para muitos. É um part-time, para outros tantos. É um “andas lá a fazer o quê”, para os que já foram de Erasmus.
Hoje, Portugal precisa de mais voluntariados do que nunca, precisa homens e mulheres com vontade de fazer alguma coisa pelo seu próprio país; precisa de coragem para acreditar que é possível fazer o impossível; precisa de médicos, de engenheiros, costureiras e carpinteiros, que se sintam orgulhosos de estar cá dentro, de fazer crescer o que é de cada um de nós.
E aqueles que já têm a mochila pronta, vão, mas não se esqueçam de voltar.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez