Lá na minha terra… – A revolta dos pastéis de nata

Lá na minha terra a especialidade é a broa de Avintes, com ou sem chouriço aquela coisa dura e castanha faz as delicias das casas. Mas porque não ser uma especialidade de todas as casas? Porque não fazer do que é nacional algo conhecido e apreciado além-fronteiras? E aqui começa a revolução dos pastéis de nata. Com certeza que não será uma salvação, mas grão a grão enche a galinha o papo, e pastel a pastel, alheira a alheira, chouriço a chouriço e broa a broa enchem os cofres. Como eu devem existir mais pessoas que defendem tal ideia, mas parece que agora há quem fale dela no parlamento. Pode ser que a revolta comece.

Nos nossos supermercados conseguimos encontrar um pouco de cada cultura, encontramos os crepes e cremes franceses, a pizza, panetones e massas italianas, as panquecas, manteigas de amendoim e bolachas americanas, as especiarias e kebabs indianos, o sushi japonês, a fruta e legumes de tudo o que é canto do mundo. Lá fora não encontramos alheiras, chouriços, rissóis e croquetes, fruta e legumes ou mesmo pastelaria portuguesa. Porquê? Porque compramos aos outros se nós também temos qualidade? Mais, porque compramos aos outros e não vendemos aos outros?

Quantos turistas não se rendem aos encantos da comida portuguesa, aos tão simples rissóis, enchidos e doçaria nacional? Não é assim tão difícil perceber que a nossa gastronomia é apreciada, que a nossa gastronomia poderia fazer sucesso assim como a estrangeira faz cá. Vender os nossos produtos não faz com que eles percam exclusividade, faz sim com que eles ganhem mais intensidade. Não quero pôr os alemães a fazerem cozidos à portuguesa ou os franceses a fazerem umas tripas à moda do Porto, quero que no estrangeiro se comam os petiscos que comemos aqui, que abram os seus horizontes estomacais às delícias portuguesas. Se nós comemos o que é dos outros e os outros comem o que é de outrem, parece-me justo que comecem a comer o que é nosso. E parece-me ainda mais justo que nos esforcemos para que tal aconteça-

A revolta dos pastéis de nata poderia começar por eles mesmos, assim para adoçar um pequeno-almoço. Depois poderíamos atacar com uns petiscos como os bolinhos de bacalhau para o almoço ou mesmo umas chouriças assadas. Aos poucos dava-mos a conhecer as alheiras. Uns ovos-moles, uns pães de Deus. Totalmente rendidos.

Esta parece-me a revolta mais simples de se realizar e mais simples de obter sucesso. Falta apenas força de vontade dos comandantes.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra.