Lá na minha terra… – O apagão tecnológico

Lá na minha terra só se fala do apagão das televisões que passam do sinal analógico ao digital, muito por causa dos trinta e poucos euros gastos nos aparelhos para continuar a ver os quatro canais. Mas TDT’s à parte, aqui fala-se de um outro apagão. Consta-se que dia 23 de Janeiro está programado um black-out por tempo indeterminado de nada mais nada menos que Google, Facebook, Twitter, Ebay, Amazon, Mozilla e Wikipedia. Catrabum! E dizem aí que o fim do mundo não vai acontecer. (http://www.tecnologia.com.pt/2012/01/google-e-facebook-ponderam-suspender-os-servicos/)

Suponhamos que o black-out dura um mês, coisa pouca. Agora imagine o que iria fazer nesse mês, ou melhor, deixaria de fazer. Imagina-se um mês sem poder aceder ao Google para pesquisar mil e uma coisas, das mais necessárias às mais disparatadas; um mês sem Gmail ou mesmo Google Plus – uma rede social para os que desconhecem. Um mês sem receber e-mails, sem ler newsletters, um mês sem saber de propostas de emprego e afins. Poderia procurar nos jornais, pesquisar sobre algo numa enciclopédia caquéctica e poeirenta ou mesmo começar a tomar atenção à papelada que lhe enche o correio e que automaticamente vai para o lixo. Muito possivelmente não o faria, ficaria na ignorância que a tecnologia nos tem vindo a trazer. Para os mais preguiçosos ou mesmo ousados, como será um mês em fazer aquelas compras excêntrico-necessárias no Ebay? Onde vão arranjar as pechinchas? Na Amazon não é de certeza. Possivelmente irão contentar-se com os produtos nacionais do Custo Justo. Ou então vão ver as suas contas bancárias crescer despropositadamente.

E agora é que vem o pior. Como iríamos partilhar todos os nossos estados de espíritos diários com as centenas de “amigos”? Não imagino nenhuma alma a enviar sms a torto e a direito para todos os contactos. Como ficaríamos a saber as cusquices sobre os outros? Imagina-se sem Facebook? Eu não, e de certeza que quem o tem nem pondera tal hipótese. E já agora, onde iríamos procurar aqueles pormenores que não lembram a ninguém, onde iríamos encontrar a informação resumidíssima para estudar para uma frequência ou para fazer um trabalho? Sem Wikipedia toda a nossa inteligência vai por água abaixo. Soa a exagero? Então pesquise algo no Google e veja se um dos primeiros links em que acede não é a Wikipedia, e se não é lá que encontra a informação desejada. Ao estilo do Malato, já fui tão feliz lá.

Está na hora de deixar de pensar em curto prazo. Imagine, assim na pior das hipóteses – se bem que hipoteticamente impossível – que deixaríamos de ter internet. Assim só por meia dúzia de meses. O quê? Tudo louco! Ninguém tem já dinheiro para comprar jornais e revistas todos os dias, ninguém tem pachorra para ver televisão depois do jantar até ir dormir. Ninguém envia cartas com a mesma frequência que e-mails e já nem devemos saber como procurar palavras no dicionário quanto mais numa enciclopédia. A tecnologia tirou-nos a capacidade de sobrevivência, de “andarmos da perna” por nós mesmo sem ser a arrastar a cadeira da secretária até ao cesto do lixo, e isto quando não fazemos apenas pontaria.

Para aqueles que não acreditam no fim do mundo, eu digo que isto seria apenas o começo.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra