Lá na minha terra… – O dom

Lá na minha terra pode não se saber ao certo o que é um dom, se nasce connosco ou se se desenvolve com o tempo. O certo é que cada pessoa singular tem o seu, cada uma tem o seu especial talento, uns melhores, outros piores. Mas afinal o que é um dom? Sem grandes pesquisas e recorrendo ao meu querido senso comum, um dom é uma capacidade além-capacidades, não no sentido figurativo, é uma capacidade alem normalidade, sim no sentido positivo. Ter um dom pode ser sinónimo de fazer uma determinada coisa na perfeição, assim como pode ser a faculdade de sentir algo que os outros não sentem, uma espécie de premunição ou sexto sentido, fugindo para o sentido espiritual da coisa.

Eu gostaria de ter o dom de ler as mentes, de saber o que as pessoas estão a pensar, aquilo que lhes vai na mente. As suas profundezas mais obscuras à luz do meu dom. Saber se aquilo que diz é realmente aquilo que pensa, que quando diz que sim quer dizer que não, se a cara de felicidade que faz é o que realmente lhe vai na cabeça, ou mesmo aquilo que pensam no primeiro contacto connosco quando nos conhecem. Agora descobrir o que vai na cabeça dos outros quando estes ficam com o olhar fixo em algo e distante ao mesmo tempo era qualquer coisa de interessante. Mas ter o dom de descobrir as mentiras era algo que também daria jeito, olhar para uma pessoa e ver ou mesmo sentir que está a mentir, iria facilitar muita coisa. Há quem gostasse de ter o dom de mudar o passado e desenhar o seu futuro, eu não gosto deste. Alterar o que já aconteceu iria mudar aquilo que iremos fazer, ou mesmo que estamos a fazer agora. Se assim fosse, a esta hora poderia nem estar a escrever este texto. E adivinhar o futuro poderia trazer alguma intranquilidade, imagine se descobria que morreria cedo ou que algo mau lhe iria acontecer? Mas já pensou na maravilha que seria se tivesse a sorte de descobrir que iria ser um poço de saúde e felicidade ou mesmo que adivinharia os números da chave mais cobiçada da Europa. A verdade é que se tivéssemos a capacidade, o dom de escolher ou definir o nosso futuro seria uma catástrofe, nem é bom pensar. Nem é bom querer, fiquemos à mercê do dom do destino. Agora que penso, um outro dom que gostaria de ter era o de perceber os sonhos. O que nos dão, o que nos tiram, porque os temos, quem são os desconhecidos e porque estão em algo que é nosso, porque nos esquecemos de uns sonhos e outros não nos saem da cabeça. Ter o dom de escolher com o que sonhar, oh noites maravilhosas e sonhos cor-de-rosa.

Sorrir é um dom. Não para todos, muitos são amarelos e pegajosos, estão em todo o lado mesmo quando não devem. Sorrir quando se está mal ou bem, quando se encara o presente e o futuro desconhecido com um sorriso é um dom, e nem todos o têm. Há quem tenha ainda o dom de fixar coisas, não objectos mas situações, simplesmente consegue arranjar uma solução positiva para tudo, consegue “descomplicar” o que é por si complicado. Há quem ainda tenha o dom oposto, tanto o de transpirar negatividade como o de complicar o 2+2.

Seja algo que nasce dentro de nós ou que aprendemos a ter, o dom é nada mais que um talento especial. Falei em capacidade espiritual mas acho que é mais obra da imaginação que um dom. Pode existir quem sinta e quem preveja, assim como quem adivinhe nem que seja coisas mínimas, e é aqui que a palavra dom mais sentido faz. Mas eu quero que o dom seja algo comum em todos, por isso acredito que ter um dom é ter um talento. Eu cá gosto de pensar que tenho o dom da palavra, principalmente para refilar. Mas o meu verdadeiro dom é o de chatear, isso faço como ninguém.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra