Lá na minha terra… – Projectos de vida

Lá na minha terra, e como em todas as outras, longe vão os tempos em que fazemos projectos de vida, idealizamos objectivos e desejos para o futuro. Os futuro é cada vez mais incerto e não há vidente que nos safe, até porque elas são bem mais incertas que o destino.

Não precisamos de recuar muito atrás, mas há uns anos ainda era possível um jovem planear o seu futuro, imaginar como estaria passados dez anos, onde estaria e com quem gostaria de estar. Entrava-se cedo na vida laboral o que dava, à partida, uma certa folga económica que permitia criar planos para o futuro e mesmo começar uma família relativamente cedo (cedo no sentido de tempo actual, tendo em conta que agora pensa-se em ter filhos quase na terceira idade). Se não se ia trabalhar estudava-se com a garantia de um futuro saudável e justo. Tiravam-se licenciaturas, apostavam-se em mestrados com anos de carreira já passados e ousavam-se nos douturamentos, mas semrpe com garantias de emprego assim que a vida académica terminasse. Era possível criar raízes, criar laços, criar o futuro à sua própria maneira. Bons velhos tempos que eu não apanhei e não apanharei mais.

Agora planear o futuro é pensar no que vestir no dia seguinte. Temos licenciaturas que nada nos servem, apostamos em mestrados em tenra idade de modo a evitar o síndrome do desemprego e rezamos por bolsas ou posses económicas para avançar com um douturamento. Futuro? É apenas o amanhã. Não podemos mais tirar um curso superior e pensar que vamos exercer a profissão para a qual queimamos pestanas e fundimos neurónios, tiramos a licenciatura e ficamos ao Deus dará enviando curriculuns a torto e a direito entre eles para supermercados e lojas de roupa, talvez o futuro menos incerto dos dias de hoje. Não podemos mais planear com véus e grinaldas, ou lugares cativos na Luz, não podemos pensar na casa grande com uma cozinha de sonho e um pequenote a destruir tudo. Lá se vão os sonhos de um cãozinho a passear pelo jardim. Não podemos sequer planear que nos chamem Sr. Jornalista, Sr. Engenheiro, Sôtor ou outra coisa qualquer nos primeiros anos pós-licenciatura, salvo os nossos pais que continuarão a fazer  publicidade a nós próprios, abençoados. Bem-vindos ao mundo (des)encantado da vida incerta com certeza de dificuldades e falta de reformas em idade avançada.

Não podemos planear o futuro, podemos aproveitar o pouco que o presente nos trás. E como encaixo na perfeição neste quadro ouso em falar na primeira pessoa do plural: estamos tramados!

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na Minha Terra