Lá na minha terra… – Sócio, estás a desconcentrar-me

Lá na minha terra Paulo Futre é conhecido pela velha guarda aldeola como jogador da bola, mas nos dias de hoje é mais um dos que papa tudo. Foi no futebol que fez sucesso mas parece que o seu melhor cruzamento é feito em frente às câmaras, mesmo com pausas de mais de cinco segundos entre cada frase e sem muita competência para o pequeno ecrã. O sócio é um autêntico entertainer, não no sentido de fazer rir com o que diz, bem, talvez um pouco, mas mais na sua genuidade e falta de jeito para a coisa.

“Sócio, estou concentradíssimo”. E assim lá voltou à conversa dos portugueses, e ao gozo, é preciso que se diga. Muitos já não se lembravam dele e mais ainda nem sequer o conheciam mas foi a sua táctica 3x4x4 numa conferência de imprensa ao estilo chinês, trocas tintas mal pintadas mas que lá no fundo todos o entendemos, que o desconcentrou por completo. A verdade é que deu para rir. O Youtube e os telejornais fizeram o resto, como sempre fizeram disto uma grande coisa. A partir daí o Futre, é estrela em tudo o que dê pano para mangas.

Futre prometeu o melhor jogador chinês da actualidade mas na realidade a estrela era outra, o trunfo estava na sua própria manga. A sua concentração já deu direito a um livro, a uma participação como actor, a anúncios publicitários e mesmo a um novo cargo desportivo. Figura assídua em discotecas e ainda em revistas, Futre abriu o livro mas alguém já o podia ter fechado. Nunca gostei da burrice que se faz de fama, muito menos das pessoas que disso se aproveitam, principalmente quando é o dito “burro” que levanta as orelhas como se estivesse cheio de razão. Chateia-me as pessoas que se dizem famosas, ou que se fazem de tal, e que se aproveitam das suas próprias gaffes ou parolices para chegar mais ao cimo do estrelato. Isto é de todo uma cena que não me assiste.

E como sempre não há uma sem duas: os anúncios publicitários esticam a corda como se elásticos fossem. Aproveitam-se de tais frases ou situações para fazê-las passar milhentas vezes nas nossas televisões. Qualquer dia teremos alguma marca a publicitar que África fica a Norte de Portugal ou que Camões perdeu um olho na guerra civil espanhola. Agora, e mais de umas cinco vezes por cada intervalo televisivo, lá vem o sócio com mais duas de letra sobre aparelhos de fitness. O “El Portugués” «vai vir» para ficar, mas sócio, estás a desconcentrar-me.

Crónica de Daniela Teixeira
Lá na minha terra