Lisboa – Do Terramoto ao Corpo Humano

Olá a todos os amantes de Lisboa,

Sejam bem-vindos a mais uma crónica, onde venho oferecer algumas sugestões daquilo que poderá fazer e visitar, sozinho, com amigos ou família, na nossa mui nobre e sempre leal Cidade de Lisboa. Todas as sugestões que passarei a dar brevemente abriram ao público neste presente mês e, poderão ou não, consoante a oferta, ser alvo de uma visita durante os próximos meses. Tal como tenho vindo a fazer nas minhas últimas crónicas, direi sempre a calendarização das mesmas para poder ir quando lhe mais convier.

Começo a crónica deste mês com algo bastante importante e intrinsecamente ligado à História de Lisboa. Um evento que não só mudou a face da nossa cidade, como também a mentalidade das suas gentes, que começaram a olhar para a Natureza com outros olhos. De facto, ela dá-nos muito, desde a água que bebemos ao ar que respiramos. Mas também pode ser capaz de nos tirar aquilo que mais gostamos, através de eventos naturais que surgem sem qualquer tipo de aviso. Sem mais rodeios, os meus amigos já devem ter percebido daquilo que vos falo. Sim, às 9h30 do passado dia 1 de Novembro, Dia de Todos-os Santos, “comemorou-se” os 260 anos do grande terramoto, e consequente tsunami e incêncio, que atingiu Lisboa e que mudou, para sempre, as vidas dos seus habitantes. Hoje, a Lisboa que vemos, nomeadamente a Baixa, é o resultado de ideias arquitectónicas revolucionárias e iluministas, que moldaram a nossa cidade, e que fez ecoar o seu nome por toda a Europa e Mundo. Apesar de todas as coisas que possa ter feito de errado, à luz da razão do Século XXI, queria agradecer a Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, pela Lisboa iluminada que nos deixou!

Agradecimentos à parte, sigo para a minha primeira sugestão. Inaugurada às 16 horas do passado dia 1, a Exposição “Quando Lisboa Treme – de 1755 à Cidade Resiliente” é uma iniciativa da Câmara Municipal em parceria com o Insituto D. Luiz, Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e o Instituto Superior Técnico (IST). Presente no actual Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, vem mostrar ao público algumas gravuras alusivas ao terramoto daquele fatidico ano, formas de prevenção na cidade, maquetes da famosa e inovadora “Gaiola Pombalina” – o sistema anti-sísmico daquela altura, bombas de água utilizadas na época, uma plataforma sísmica interactiva, equipamentos ligados à sismologia e ilustração das actividades da protecção civil. Portanto, esta exposição vem mostrar àqueles que a queiram visitar, não só traços da Lisboa antes do terramoto, mas também a Lisboa pós-terramoto. Bem como a forma que as autoridades competentes possuem mecanismos prontos a accionar, caso um evento semelhante ocorra nos dias de hoje. Acho pertinente esta exposição sendo uma forma de todos nós, cidadãos, aprendermos com o passado formas de prevenção, de lidar e agir em situações semelhantes. Se a quiser conhecer poderá fazê-lo, de forma gratuita, até dia 1 de Março de 2016, de terça a domingo, das 10h às 18h.

Foto de Manuel Levita
Foto: Manuel Levita

Se é amante de cinema, a próxima ideia poderá ser do seu agrado e uma boa opção para ver com a família. Sabe quem é Wim Wenders? Não? Então eu passo a explicar. Ersnt Wilhelm “Wim” Wenders é um cineasta, dramaturgo, fotógrafo e produtor de cinema alemão e é o actual presidente da Academia de Cinema Europeu, em Berlim. A sua história nem sempre foi de sucesso. Começou por estudar Medicina e Filosofia nos anos 60, desistiu e mudou-se de malas e bagagens para Paris, onde tentou a sua admissão na École nationale supérieure des métiers de l’image et du son (ENSMIS ou actualmente conhecida como “La Fémis”). Não tendo conseguido, começou a trabalhar com um artista norte-americano num bairro parisiense. Aí, o seu gosto pelo cinema cresceu e, mais tarde, regressou à Alemanha para trabalhar em Dusseldorf. Começou, então, a criar curtas-metragens e o seu sucesso foi notório. É detendor de vários prémios internacionais, sendo o mais recente o prémio carreira, atríbuido em Berlim.

“Biografias à parte, Wim Wenders é um senhor famoso, mas o que é isso tem a haver com a sugestão?” Ora, perguntam muito bem e irei passar a explicar. Wim Wenders é um amante incondicional da cidade de Lisboa e de Portugal, no geral. Para demonstrar esse amor e paixão pelo povo português, o cineasta alemão decidiu partilhar com o público lusitano uma exposição fotográfica única! “À Luz do Dia Até os Sons Brilham – Wim Wenders à Descoberta de Portugal” é uma obra composta por várias imagens que fez em Portugal, durante a preparação e rodagem dos filmes “O Estado das Coisas”, “Viagem a Lisboa” e “Até ao Fim do Mundo”, entre os anos de 1980 e 1994, e apresentada no Lisbon & Estoril Film Festival, no dia 7 de Novembro. A par desta sua exposição irão ser visionadas, igualmente, algumas das suas principais curtas-metragens e que promete deixá-lo colado ao grande ecrã.

A exposição será inaugurada no Museu da Água – Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras – e continuará em exibição até 2 de Abril de 2016.  Pode visitar o certame das 10h às 12h30 e das 13h30 às 17h30, fechando aos domingos e segundas-feiras. O bilhete custa a módica quantia de 5€, havendo descontos para estudantes, crianças, idosos e portadores de cartões turísticos. Se ficou curioso poderá ver a apresentação da exposição, no vídeo abaixo.

Depois de uns momentos relaxados a ver uns belos filmes dos anos 80 e 90 do século XX, porque não ir conhecer o ser humano por dentro? Não meus amigos, eu sei que não são experts em psicanálise freudiana, nem eu quero que andem a tentar entrar na cabeça dos vossos amigos, ou ainda acabam por ir receber consultas no Hospital Júlio de Matos. O que vos venho sugerir é uma viagem pelo mundo fascinante, e ainda tão desconhecido, que é o nosso corpo humano. Vamos, assim, descobrir a nossa máquina natural na exposição internacional Real Bodies.

O grande objectivo desta exposição é, não só, que o público obtenha um melhor conhecimento do que se passa e acontece, dentro de cada um de nós, mas também a possibilidade de compreender a sua importância, admirando-o pela sua estética e perfeita criação. Os Antigos Gregos já o faziam, portanto, porque não recuperar essa mentalidade? O website que promove esta exposição conta-nos que a lição mais importante a retirar é o “dever de aprender a respeitar o nosso corpo, esforçando-nos por lhe dedicar tanto tempo quanto possível, através de pequenos cuidados diários. Só assim o respeitaremos na sua qualidade de “máquina perfeita””.

Cartaz da Exposição Internacional Real Bodies
Cartaz da Exposição Internacional Real Bodies

Esta exposição é adequada para qualquer tipo de público, desde os mais novos (é sempre importante dar a conhecer, às nossas crianças, a importância de cuidar do nosso corpo, como se do nosso melhor amigo se tratasse), até os mais velhos. A particularidade desta exposição é a de que os corpos expostos são reais, de homens e mulheres que faleceram, mas que nunca foram identificados (e são Made in China). Por isso, foram doados à ciência para serem estudados e os seus orgãos analisados. Só assim, poderemos conhecer melhor as maleitas que enfrentamos ao longo da nossa vida e, dessa forma, arranjar soluções para as combater. A visita é feita ao longo de 10 galerias, cada uma retrata uma especificidade própria do corpo humano: sistema esquelético (onde conhecemos o papel dos nossos ossos); sistema muscular (que papel desempenham os músculos); aparelho digestivo (compreender a viagem daquilo que comemos); aparelho urinário (a importância de manter o nosso corpo filtrado); aparelho reprodutivo (este dispensa apresentações, por razões óbvias); sistema circulatório (o nosso coração e as auto-estradas por onde circula o sangue, a mais de 120 à hora); aparelho respiratório (sem ar, o Sr. Pulmão fica sem emprego); sistema nervoso (ligado ao nossos cérebro… já agora, sabia que apenas usamos 10% da sua capacidade? O que aconteceria se soubessemos usar a totalidade da mesma? Acho que seriamos autêntivos super-heróis – aconselho o visionamento do filme Lucy); anatomia seccionada (aqui aprende-se o funcionamento do corpo na sua generalidade) e, por fim, desporto (onde está exposta, em posição de esforço, uma réplica do corpo do Cristiano Ronaldo. Eu disse “réplica”, atenção, que o homem está bem vivo e são em Madrid!).

Real Bodies está localizada no edíficio da Cordoaria Nacional, em Belém, estando aberta todos os dias, feriados inclusive, para visita das 10h às 20h. A entrada é feita de 30 em 30 minutos e dura, aproximadamente, 90 minutos cada visita. Relativamente aos preços, estes variam entre os 11,50€ e os 15,50€. Os preços mais económicos vão dos 10€ (para grupos de estudantes) até aos 39,50€ (pack de família).

Termino por este mês as minhas sugestões. Espero que as aproveite e goze de um dia bem passado, junto de familiares ou amigos, conhecendo o que de melhor Lisboa tem para oferecer. Voltarei no próximo mês com mais sugestões e ideias, por isso, esteja atento! Desejo a todos vós, caros leitores e amigos, um óptimo mês cheio de belos passeios e, se me permitem, com uma citação muito actual, ligada não só à exposição acima referida mas que também poderá extrapolar para o que se passa a nível internacional no nosso mundo:

“Não importa a raça, nao importa a religião, não importa a sua orientação política, não importa se é rico ou pobre… todos partilhamos um emelemnto comum: O Corpo Humano” – in Real Bodies.

Lisboa agradece!