Mais coisas entre céu e Terra – Francisco Duarte

Há mais coisas no céu e na terra, Horácio
Do que a tua filosofia consegue sonhar.”
Hamlet em “Hamlet”, de William Shakespeare

 

A queda de um meteorito na Rússia na semana passada foi, e justamente, objecto de grande cobertura por parte dos media. O bólide com cerca de dez toneladas, provavelmente feito de gelo, ter-se-á dividido em três partes que deixaram visíveis rastos sobre a província de Chelyabinsk. Caindo a uma grande velocidade de entrada (que pode chegar aos 30.000 quilómetros por hora), os objectos acabaram por detonar com uma força tremenda.

As ondas de choque respectivas destruíram janelas e alguns prédios, ferindo mais de mil pessoas, sobretudo devido aos vidros estilhaçados. Pelo menos três crateras foram descobertas e o governo russo mantém um controlo apertado sobre as mesmas.

Felizmente que não explodiu mais próximo das povoações, o que poderia ter sido devastador. Em 1908 uma bola de gelo bem maior explodiu sobre a floresta de Tunguska na Sibéria, arrasando uma imensa área, naquele que é um desastres causados por objectos extraterrestres mais conhecidos da modernidade.

Evidentemente que ficam no ar duas questões relevantes: de onde vieram estes objectos e o que podemos fazer para parar um que ameace a nossa civilização?

O campo de tiro cósmico

Normalmente quando se pensa em asteróides (sendo asteróide qualquer objecto de pequeno tamanho que flutue no espaço e que não seja um cometa) é normal fazer-se a associação com a chamada cintura de asteróides que existe entre Marte e Júpiter. De facto essa é uma zona onde se concentra uma grande quantidade dos objectos quando se tem em conta a maior parte do espaço interplanetário do Sistema Solar. Não obstante eles estão espalhados mais ou menos ao acaso nessa zona, distanciando milhões de quilómetros uns dos outros. Embora colisões ocasionais os possam afastar da sua órbita normal e talvez os atirar contra algum planeta, tal facto é muito raro.

Em redor dos planetas, contudo, existem grandes nuvens de asteróides, alguns dos quais de bom tamanho. Estão constantemente a entra na atmosfera, pelo que as quedas não são tão incomuns quanto se possa crer. Aliás diversos fenómenos como estrondos desconhecidos e observações de OVNIs certamente que corresponderão a quedas de asteróides mal identificadas.

O asteróide DA14 que passou próximo da Terra na passada quinta-feira, ironicamente logo depois do incidente na Rússia, foi um destes objectos que orbitam o nosso mundo, quais minúsculas em órbitas irregulares. Contrariamente ao anterior, que foi pequeno o suficiente para passar despercebido na rede de radares, este outro, maior, poderia causar danos cataclísmicos se de facto tivesse embatido na superfície do planeta.

A questão, no entanto, é se poderíamos fazer algo para parar um objecto destes, um criador de eventos de extinção em massa.

Como parar um asteróide

De facto existe um esforço internacional com o objectivo de vigiar estes objectos próximos da Terra, chamado Spaceguard. Este grupo concluiu que actualmente existirão poucas possibilidades de se fazer algo caso algum asteróide de bom tamanho esteja em rota de colisão com a Terra. Existe o potencial de que série de detonações nucleares sejam capazes de afastar o bólide da sua trajectória, mas isso é o melhor que a ciência actual consegue prometer.

No entanto há outras ideias em estudo.

Estas incluem projectar um objecto de grande massa a grande velocidade contra o asteróide para o desviar, ou, de medo menos violento, utilizar tinta (alterando a massa e o centro de equilíbrio) ou raios solares para alterar a trajectória, até métodos mais exóticos como tractores gravíticos e foguetes. No geral estas ideias precisarão de anos até estarem prontas para serem testadas, apesar de todas serem plausíveis.

No fundo a queda do objecto na Rússia serviu para nos relembrar que existe uma verdadeira espada de Damócles sobre as nossas cabeças, pronta a cair e destruir o mundo como o conhecemos. E precisamos realmente de aprender a dominar esta força se queremos evitar desastres no futuro.

Crónica de Francisco Duarte
O Antropólogo Curioso