Manifestação ≠ batalha campal

Já muito se disse e escreveu sobre isto. Mas continua a faltar uma visão, semelhante há que apresentei aquando dos incidentes de 15 de Setembro. Acho que se devem separar as coisas. Uma coisa é a greve geral e a manifestação. Outra é a meia dúzia de oportunistas que aproveitam estes eventos para atirar pedras e outros objectos à policia e provocar incidentes.

Se repararem, essa meia dúzia infiltra-se no protesto – legal e autorizado por quem de direito – para provocar desacatos. E, tal como as claques de futebol usam outros adeptos (especialmente do sexo feminino) nos estádios e imediações dos mesmos, ou como as milícias ou grupos armados minoritários usam os residentes das pequenas aldeias nos conflitos armados, usam os manifestantes como “escudos humanos”, pois estão em crer que a policia não vai carregar sobre eles.

Desta vez enganaram-se. A policia carregou sobre todos. E aqui está a grande falha da PSP. A PSP não pode carregar sobre manifestantes autorizados a ali estar pelas autoridades competentes, que não puseram em causa nem a integridade física dos agentes ou dos restantes cidadãos, nem fizeram algo contrário à ordem pública. Ao contrário do que diz o Ministro Paulo Macedo, não há qualquer proporcionalidade naquela acção do corpo de intervenção da Policia de Segurança Pública. Como se vê em vários vídeos que vagueiam pela Internet, há cidadãos que não oferecem qualquer resistência à iniciativa dos agentes e mesmo assim são brutalmente agredidos. Perante uma situação destas, se o cidadão  não oferece resistência e a policia acredita que ele praticou algum delito, deve deter o individuo e não espancá-lo!  Vi inclusivamente num video um cidadão a passo, com uma mochila às costas, que, perante a investida da policia, põe os braços no ar mostrando uma carteira aberta – creio que seria jornalista e estaria a mostrar a carteira profissional – e é violentamente agredido com bastonadas de um agente – peço desculpa se ofendo algum digno agente da autoridade por chamar a este individuo agente – da PSP, enquanto gritava “a andar, car****”. Isto não é atitude de agente de autoridade. É atitude animalesca. A PSP, bem como a GNR ou outras forças da autoridade, têm como função manter e repor a ordem pública. E isso faz-se com a aplicação de multa e/ou detenção de quem pratica o ilícito. O que vimos na quarta feira foi uma policia desnorteada a “varrer” a bastão tudo e todos, como se todos tivessem culpa daquela meia dúzia que levou demasiado tempo a mandar pedras da calçada aos escudos da policia sem que eles reagissem.

Sejamos claros: a PSP é uma força de autoridade imprescindível à nossa Sociedade e ao Estado. Mas estes episódios mostram que o corpo de intervenção não está preparado para estas situações e tem acabado sempre por tomar as piores decisões. E são estes episódios que mancham a imagem de uma instituição que, no dia à dia, é o garante da nossa segurança e harmonia, na convivência em sociedade. E, continuando a minha intenção de ser claro, ninguém me convence que alguma escola de policia ensine um agente (ainda para mais de uma força de intervenção) a bater com o bastão sempre na cabeça do meliante. E ali a esmagadora maioria dos feridos foram agredidos pela PSP na cabeça.

Para finalizar, há que reter em mente dois princípios e duas mensagens ao Sr Ministro Paulo Macedo: os “profissionais do vandalismo e violência” como o Sr Ministro decidiu chamar (e eu desconhecia que isso já era uma profissão) não foram convocados pelos sindicatos que marcaram a greve e manifestação, por muito conveniente que isso possa ser ao Governo para afastar o “foco” das razões da greve; e segundo, se “varrer” o TODO quando só uma parte está mal resolve o problema para o Sr ministro (que diz que a PSP agiu bem ao “varrer” os manifestantes), quando, há pouco tempo, saíram 2 secretários de Estado, devia ter saído o Governo todo.

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…