The Maze Runner – Mais Uma Aventura Distópica (Review)

Este mês no Magazine Mais Opinião sugiro uma reflexão vincada sobre os padrões temáticos de Hollywood a propósito do novo filme The Maze Runner – Correr ou Morrer, que estreou no dia 18 de Setembro nos cinemas portugueses e um pouco por todo o mundo. Embora seja um filme com algumas particularidades interessantes torna-se mais uma adição da cada vez mais vasta lista do fenómeno dos thrillers distópicos que têm marcado o cinema e a literatura nos últimos anos desde a chegada de The Hunger Games em 2012.

 

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Titulo Original: The Maze Runner

Ano: 2014

Realizador: Wes Ball

Produção: Marty Bowen, Eddie Gamarra, Wyck Godfrey, Ellen Goldsmith-Vein

Argumento: Noah Oppenheim, Grant Pierce Myers, T.S. Nowlin, James Dashner (livro)

Actores: Dylan O’Brien, Kaya Scodelario, Will Poulter

Musica: John Paesano

Genero: Acção, Mistério, Sci-Fi

 

 

Ficha técnica completa em:

http://www.imdb.com/title/tt1790864/

 

Seria mentira e altamente controverso tentar separar todas estas pequenas eras e direcções temáticas no grande ecrã como representantes de toda uma era de Hollywood, não podemos simplesmente categorizar todas as produções americanas desde a chegada de Crepúsculo em 2008 até a The Hunger Games em 2012 como a “Era dos Vampiros”. Muitas pessoas tentaram em vários artigos e na mais variadas vertentes atribuir um prognóstico quase fatalista, mas principalmente redutor, a estas “eras” que pouco disso têm. Estamos na presença de fenómenos que por vezes coexistem separados entre imensos géneros de Hollywood e não começam simplesmente porque outro acabou, sobrepõe-se e desvanecem basicamente porque deixam de vender tão bem como na sua ascensão, principalmente depois do público-alvo ser exposto a um conceito até à exaustão durante três ou quatro anos seguidos.

Estes fenómenos não são novos embora a aldeia global em que nos encontramos pareça ter facilitado esta reprodução de conceitos e fortalecido a sua presença. Nos anos 80 proliferaram fenómenos como a ficção científica, a dança, a aventura, a fantasia, e até a nível mais técnico, a utilização de marionetas de forma exaustiva. São modas que por vezes são influenciadas por novas visões tecnológicas, influencias cinematográficas e também, e não menos importante, a competição entre produtoras.

Há poucos anos começou uma moda nos filmes de terror que se tem arrastado de forma exaustiva: a perspectiva da câmara amadora que presencia toda a acção. Não quer dizer que seja um conceito novo, já nos anos 80 existem alguns filmes que introduziram esse conceito, mas foi como Blair Witch Project (1999) que o fenómeno se expandiu dando azo a REC (2007), Cloverfield (2008) ou o mais famoso Paranormal Activity (2009-????). Podemos também referir o fenómeno dos super-heróis que tem suscitado bons e maus filmes por parte da DC, e da Marvel, esta última com projectos até para lá de 2020.

Quanto à animação podemos verificar um fenómeno que tem criado um certo ambiente de competitividade entre Disney Pixar e Dreamworks que se traduz em conceitos muito parecidos ao longo dos anos. Quem não reparou nas similaridades entre produções? Era quase possível fazer uma lista desde 1998. Antz: Formiga Z e Uma Vida de Insecto, ambos de 1998; ou então À Procura de Nemo (2003) e O Gang dos Tubarões (2004); ou ainda mais recentemente Madagascar (2005) e The Wild (2006). O conceito é muito semelhante e claro que todos reparámos!

E claro desde 2008 que o grande fenómeno no cinema mais mainstream são os vampiros, especialmente associados a uma comunidade adolescente de uma certa rebeldia. Os vampiros saíram assim de um submundo mais pequeno e mais pontual, muitas vezes associados ao terror e entraram nas salas de cinema como fenómeno juvenil. O conceito foi de tal modo explorado à exaustão que um dos presidentes mais emblemáticos dos EUA já estava a matar vampiros como se não houvesse amanhã. Claro que alguém tinha de eventualmente sobrepor-se, e a resposta foi The Hunger Games.

Tanto o fenómeno de Twilight como o The Hunger Games tem um começo na literatura e são sucessos de uma parceria crossmedia que veio para ficar, tal como fenómenos mais antigos como Harry Potter e O Senhor dos Anéis. No ano que corre, o fenómeno Twilight já quase se desvaneceu, tendo lentamente dado lugar ao thriller distópico, filmes que apresentam modelos de sociedade que põe à prova a juventude numa espécie de lei do mais forte onde a Declaração Universal dos Direitos Humanos é totalmente ignorada em prol do entretenimento de massas. Note-se que não é um conceito mau e até tem contribuído positivamente para a visão da heroína no feminino e ao afastamento da ideia da mulher como sidekick. Desde The Hunger Games surgiu Divergent (2014) também baseado num conceito semelhante.

É neste ponto que chegamos a The Maze Runner, que embora participe nesse fenómeno de sociedades distópicas adapta o conceito a um labirinto em vez de uma arena e a uma pequena comunidade em vez de uma sociedade sectorizada ou categorizada. O resultado é uma mistura que embora não se distancie de outros filmes do género tem as suas particularidades. É um filme que no início deixa a audiência exposta às mesmas perguntas do protagonista, sentimos que estamos a seguir os mesmos passos das personagens e isso é bom, dá-nos uma realidade reduzida e pode eventualmente levar-nos a alguma surpresa. Noutros filmes do género temos acesso e conhecimento sobre tudo o que rodeia a acção, em The Maze Runner acontece o inverso, não sabemos nada, começamos num centro e expandimos o conhecimento sobre o que nos rodeia à medida que a trama avança.

A história é no início simples, várias crianças e adolescentes do sexo masculino são largados, um a um, numa clareira no meio de um labirinto sem memoria do que eram antes de lá chegarem. Forma-se então uma comunidade que tenta desvendar o segredo do labirinto, labirinto este em constante mutação fechando durante a noite e patrulhado por criaturas que se assemelham a uma versão aracnídea do Alien do já falecido H. R. Giger. A partir dai o filme transforma-se numa jornada contra o labirinto mas também dentro desta comunidade de jovens que se vê dividida entre o conformismo da sua situação e a vontade de encontrar uma forma de fugir do ambiente em que se encontram.

As semelhanças com The Hunger Games não são claras no início do filme mas à medida que a historia se desenvolve ficará visível que este é mais um filme na onda desse fenómeno.

É necessário destacar ainda que este é um filme que junta uma nova geração de actores que possivelmente poderão dar um passo importante para o estrelato. Nomes como Thomas Brodie-Sangster e Will Poulter não são propriamente desconhecidos mas a estes juntam-se outros que não têm uma carreira tão activa em Hollywood.

Embora os efeitos especiais não se destaquem de outros filmes do género, e também a música não deixe qualquer tipo de lembrança positiva ou negativa, The Maze Runner é um filme interessante com um certo grau de divertimento. A história tem as suas particularidades mas o seu produto final pode derivar entre o “mais do mesmo” ou numa excelente adição ao fenómeno vigente. Peca também por desenvolver a historia demasiado perto do final com um grande numero de informações que surgem nos últimos 15 minutos. O filme promete uma sequela, que pode ajudar a perceber melhor que rumo terá esta historia, em alternativa é sempre possível ler os livros! Resta esperar pelo seguimento da narrativa para perceber se de facto há futuro nesta franchise.

Golpada Americana e Gravidade

7

 

Volto no próximo mês com mais cinema…

Artigo de Luís Antunes