“Mudar de vida: Portugal e arredores” – Nuno Araújo


1. Na passada Sexta-feira, Pedro Passos Coelho emitiu mais um “soundbite”. Então não é que ele disse que estar desempregado não é necessariamente mau?

Vejamos. Passos Coelho disse que “estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”. Que oportunidade para mudar de vida existe, para o milhão de pessoas desempregadas em Portugal? Imigração? Criminalidade? Prostituição? Ou suicídio? É que todas estas opções são livres escolhas!

Passos Coelho mostrou, mais uma vez, ter falta de sensiblidade e de bom senso, ao dissertar de forma analítica algo que quase só pode ser abordado numa perspectiva de empatia pelo próximo, neste caso, pelos desempregados. É da vida das pessoas que estamos a falar, Sr. Primeiro-ministro.

2. A vitória de François Hollande nas eleições presidenciais francesas não me surpreendeu, tal como eu havia colocado na minha crónica da semana passada.

A sua vitória não foi obtida com larga vantagem, mas determinou que Sarkozy fosse o primeiro presidente francês em funções, a não ser reeleito – desde 1981, em que o presidente da época, Valéry Giscard D’Estaing, perdeu face a François Miterrand.

A verdade é que Hollande tem agora desafios enormes à sua frente, e o primeiro dos quais chama-se Angela Merkel, senhora do “trono alemão”. Aliás, todo o “aparatchik” alemão (incluindo o líder do banco central alemão, vigoroso opositor a Hollande) se prepara para enfrentar os socialistas franceses. Mas a União Europeia já dá sinais de mudança de mentalidade – ainda que esses mesmos sinais sejam tímidos.

3. Bem que não me alonguei na semana passada acerca da crise da Grécia. Os gregos votaram em eleições legislativas para a formação de um novo governo, ou talvez não. E, ainda na semana passada, frisei que não importava qual o resultado saído dessas eleições, que a Grécia estava condenada, e não me enganei.

Se a direita conservadora da Nova Democracia ganhou, foi vitória amarga, até porque o Syzira (Bloco de Esquerda grego) ficou em segundo, à frente dos socialistas do PASOK, inviabilizando qualquer tentativa de governo pró-troika.

Agora, é certo e sabido que Merkel e Durão Barroso irão fazer de tudo para as eleições que aí vierem dêem governo de coligação a favor do empréstimo. Mas a outra opção, sempre em pé e em tom de ameaça deixado por Schauble (ministro das finanças alemão), é de que “Zona Euro suporta saída da Grécia‎”. E pior: eu creio mesmo que o senhor Schauble tem razão. A ver vamos.

4. A Síria está numa situação de completo caos interno, depois do atentado da passada Quinta-feira. A explosão ocorrida na periferia de Damasco (região de Qazaz), e causou pelo menos 55 mortos e 372 feridos, já reivindicada pelo grupo radical islâmico Yebha al Nasra. Este grupo vem juntar-se às milícias várias que combatem o regime tirano de Bashar Al-Assad.

O líder da oposição síria (Conselho Nacional no exílio), Burhan Ghalioun, e o Exército Livre Sírio já se demarcaram destes atentados, porém a verdade é que cada e qualquer opositor a Assad, neste momento, é valioso, até porque finalmente a China e a Rússia, altamente interessadas pelo que se desenrola no médio-oriente, se envolveram no cessar-fogo implementado (mas mal, muito mal) na Síria.

Após as quedas dos tiranos na Tunísia, Egipto e Líbia, a Primavera Árabe (ainda) continua…

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana