Mundo ao Contrário – Mega Promoção

Enquanto criança nos anos 80, tive o privilégio de assistir a um verdadeiro crescimento social e económico, de um país que começava a acordar de uma ditadura.
Se os nossos pais só conheciam os mercados, os anos 80 trouxeram os Super-Mercados, e estes proliferavam como se se tratasse de uma epidemia. Mas não eram só os mercados que eram Super, até a gasolina era Super, porque vivíamos bem por isso os nossos carros tinham também direito a ingerir um líquido especial.

Nos anos 90 o regabofe além de continuar expandia, os mercados deixaram de ser Super e passaram a ser Híper, em indicação clara que a vida Super já não era nada de especial e os portugueses mereciam bem mais. Também as promoções já não eram apenas promoções eram já Grandes Promoções.

A passagem do milénio impunha uma modernização Super Híper já não chegava, as coisas passaram a ser Mega. Por outro lado ao mesmo tempo perdia-se algum orgulho nacional, e as lojas deixavam de ser lojas para passar a ser Store. A par da evolução o petróleo dava o primeiro sinal que começava a ser um luxo dispendioso, e a gasolina deixou de ser Super, não para ser Híper, mas para ser Sem Chumbo, numa indicação que já não era algo tão bom, mas tinha de ser assim para ser mais acessível.

A loucura continuou, e nos últimos anos começava a tornar proporções incontroláveis. Elefantes, ratos e macacos gladiavam-se em horário nobre para atrair clientes às suas enormes lojas. Provavelmente eles sentiam-se como comandantes de verdadeiros Titanic’s mas a caminho de um inevitável Icebergue.
A loucura era tanta que as promoções não eram grandes nem mega, eram Mega Bombásticas, num sinal claro de que sociedade que junta estas duas palavras está prestes a ver uma bomba rebentar nas suas mãos.

A bomba rebentou – bem-vindos à inevitável crise. Durante anos a ceder à pressão de super híper mega bombásticas promoções o resultado foi uma colisão de frente entre o consumismo e o saco (à primeira vista sem fundo) do crédito ao consumo.

Num incrível volto de face, subitamente as coisas já não são super, muito menos híper, nunca Mega. O macaco anda meio perdido, o rato emigrou para a Holanda e o Elefante voltou para o Zoo tocar o sino por 5 cêntimos, naquela que é verdadeiramente uma Mega promoção.

Agora ninguém fala em promoções, porque nem elas chegam para tentar o consumidor, por todo o lado fala-se agora, humildemente, em preços de crise, cabazes de crise, com preços que nunca nas mais drásticas Mega Promoções tinham sido atingidos.
Estes verdadeiros “milagres” escondidos, todos estes anos são efectivamente o resultado de anos a obter 300% de lucro nos produtos, para agora dar a abébia e não deixar o barco ir ao fundo? Estarão apenas a mostrar-nos que conseguem manter as Mega Stores, ainda que com menos lucro (mesmo assim mais do que suficiente?) Ou há produtos mais baratos, com menos qualidade mas para povo em crise “bacalhau basta”?

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário