Mundo ao Contrário – Projecção para o futuro

A última crónica do ano deixa-nos duas opções:
– A retrospectiva do ano anterior.
– A projecção do novo ano.

Na verdade, de uma forma geral 2011 não foi um bom ano. Por sua vez 2012 não agoura nada de bom.
Decidi então olhar, não só para o novo ano, mas também para o futuro.

O futuro são as crianças, mas eu não quis ter a prepotência de projectar um futuro longínquo. Para projectar um futuro a curto/médio prazo, decidi observar alguns adolescentes.
Em ambiente de férias de natal, coloquei logo de parte a hipótese de encontrar alguém na escola ou nas redondezas. Recorri às memórias da minha adolescência e decidi ir a sítios onde achava que ia encontrar o nosso futuro.

Primeira paragem o cinema low cost, que passava filmes um pouco depois da estreia, mas com preços módicos que nos atraiam a ver verdadeiros clássicos. Um grande cartaz no que costuma ser a entrada deixava adivinhar o pior: “Espaço disponível para exploração.”
Segui directo para a casa de jogos, onde passei muitas férias a depositar moedas de 50 $00 nas máquinas, mas desisti ao perceber que é agora um daqueles cabeleireiros modernos muito chique, onde quem nos corta o cabelo é uma jovem que insiste em nos querer arranjar as unhas (seja lá o que isso for), não diz palavrões, nem fala de futebol.
Não me dando por vencido fui ao salão de bilhar, onde encontrei o Sr. João sentando à frente a 12 mesas de bilhar vazias. Estranhei o pouco movimento, e pelo que soube é habitual. Segundo o Sr. João, para encontrar um adolescente teria que invadir a casa de cada um deles, para o encontrar em frente ao computador ou a uma qualquer consola.

Na minha útima tentativa de fazer uma pesquisa aprofundada para os leitores, e aproveitando a hora de jantar. Porque eu até ainda sou um gajo moderno, resolvi ir a uma cadeia de fast food, que por acaso até tem um dono que é um palhaço.
Finalmente, na esplanada do restaurante, lá encontrei dois grupos de espécimes para analisar.

O resultado não foi o melhor, deixem que vos diga que o futuro é no mínimo estranho.
Para começar o futuro é um pouco cego, na cabeça apresenta uns tufos no ar, que termina com meia dúzia de guedelhas a cair na frente dos olhos. Para terem uma ideia, visto ao longe, se tivesse um pipo ao pescoço era um S. Bernardo.
Por outro lado o futuro é surdo, porque mesmo na hora da refeição não prescinde dos auscultadores enfiados nas orelhas, e pior tenta manter uma conversa. O que termina literalmente em conversa de surdos (mas sem organização). Se nos dias de hoje nas discussões na assembleia da republica já ninguém se entende, no futuro devem ser aterradoras.
O aspecto positivo do futuro é a informação, pois cada trinca dada no hambúrguer, é desculpa para uma publicação no facebook.  Isto sem esquecer prévio post da foto da refeição.
Por fim, acho que o futuro interiorizou demais o discurso do Dr. Passos Coelho. Isto porque o futuro está literalmente com as calças na mão, e os boxeres de fora.

Crónica de Bessa Soares
Mundo ao contrário