Mundo do Coquinha 3 – 15 minutos de estupidez!

Vivemos actualmente numa sociedade mediática em que muitos procuram os seus 15 minutos de fama. A busca de fama só por si não é algo mau, no entanto, a fama imediata dada pelo mediatismo causado por concursos televisivos além de efémera é deveras intrusiva na vida privada destas pessoas e imensamente limitada.

Hoje em dia, as pessoas são famosas unicamente por serem conhecidas e reconhecidas do público. Não alcançam essa fama por mérito próprio ou por fazerem algo útil ou funcional que as faça destacar de entre as outras. Concursos como a Casa dos Segredos e outros reality shows são cada vez mais comuns, não só nas nossas televisões mas também nas outras emissoras por esse mundo fora. Talvez por isso os programas e conteúdos televisivos estejam cada vez piores… ainda que as audiências não sejam reflexo de tal facto.

Longe vai o tempo em que as pessoas famosas eram admiradas por algo que faziam, eram por exemplo admiradas por serem boas profissionais, ou por de alguma outra forma efectuarem algo que as fazia destacar das demais. As pessoas são agora famosas pelas coisas estúpidas que dizem e pelas coisas que certamente nunca fariam na vida real, mas que nem pensam duas vezes para dizer ou fazer em frente a uma câmara de televisão.

E há pior… o pior é mesmo que esta estupidez e constante busca pela fama deve ser contagiante. Se não acreditam vejam o caso do jovem de 21 anos que decidiu concorrer à Casa dos Segredos com o segredo bombástico de que o pai era assassino. Mas não era um assassino qualquer, era o notório Estripador de Lisboa, certamente o maior (ou pelo menos mais famoso) serial-killer português.

Antes de mais pergunto-me, será que estas pessoas não pensam no que fazem? A partir do momento em que revelam os seus segredos nos formulários de candidatura a estes concursos, esse mesmo segredo deixou de ser segredo. Pior ainda, estão a contar segredos a pessoas que não conhecem mas que por outro lado sabem quem eles são, visto terem todos os dados de identificação dessas pessoas. Enfim, neste caso ainda estamos a falar de um universo muito reduzido de pessoas, mas e se estes candidatos forem efectivamente seleccionados, então os segredos mais íntimos destas pessoas passam a ser segredos conhecidos de todos e, certamente, serão debatidos na praça pública e nas revistas cor-de-rosa.

Voltando ao caso do jovem que revelou ser filho de um assassino, a ânsia de ser famoso e de poder participar no reality show da TVI era tal que acabou por denunciar o pai como assassino.
Claro está que este é um segredo que os seleccionadores da TVI tiveram de partilhar com a Polícia Judiciária, dando origem a uma investigação desta polícia e também a uma investigação jornalística por parte de conhecidos jornalistas da estação de Queluz. Na entrevista a um conhecido semanário o alegado assassino confirmou ter cometido os crimes dos quais já não pode ser acusado, porque de acordo com a lei portuguesa esses crimes prescreveram à cerca de 4 anos atrás, mas que uma semana depois desmente tudo em tribunal.

Consequência, o pai deste jovem encontra-se agora atrás das grades em prisão preventiva. A maior ironia é que ele se encontra preso não pelos assassinatos descritos como sendo do Estripador de Lisboa mas será sim julgado por um outro assassinato cometido alegadamente em 2000, no distrito de Aveiro. Resta ainda saber se não haverão por aí mais corpos por descobrir… talvez tenhamos de aguardar pela próxima Casa dos Segredos para alguém o denunciar.
Cada vez penso mais que vivemos num país de faz de conta onde até agora os assassinos procuram os seus 15 minutos de fama, sem que por eles sejam punidos porque a legislação não o permite, e pergunto-me: onde é que assim vamos parar?
Para onde caminha este país onde temos mais pessoas a votar em quem fica num reality show do que quem fica no comando das operações do nosso país e cujas decisões irá a todos afectar?

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