“Namíbia: o novo observador da CPLP” – Nuno Araújo

Namíbia: o novo observador da CPLP”

Mapa  Namíbia

Nesta semana que passou, o governo da Namíbia, país africano fronteiriço de Angola a sul, aprovou um pedido para admissão enquanto observador associado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Este é, sem dúvida, um primeiro passo para a adesão deste país à comunidade lusófona.

Um pouco de história

Os factos históricos ligam Portugal à Namíbia. Diogo Cão em 1485 e Bartolomeu Dias em 1486, foram os primeiros europeus a desembarcar na costa da Namíbia, porém não reclamaram esse território como pertença à monarquia portuguesa, liderada pelo Rei João II.

A Alemanha administrou o território hoje correspondente à Namíbia, até ao fim da primeira guerra mundial, altura em que a União Sul-Africana (actual África do Sul) comandou os destinos desse país. Desde 1966, activistas da SWAPO (South-West Africa People’s Organization) foram levando a cabo acções armadas contra o regime de apartheid sul-africano, que governava a Namíbia, como se de uma província mais se tratasse nessa união ditatorial, na altura gerida por De Klerk, o último presidente branco sul-africano da altura do Apartheid. Só em 1990 é que a Namíbia obteve a tão desejada independência.

Dúvidas e respostas

País maioritariamente desértico, com um milhão e meio de habitantes, e dos quais oitenta por cento da população é cristã, conta com uma taxa de seropositivos de 15% na sua população, o que talvez explique a esperança média de vida ser de apenas 39 anos.

A Namíbia é uma democracia presidencialista, liderada pelo presidente Hifikepunye Pohamba. A Namíbia é um país com predominância de trabalhadores no sector terciário. Está em 138º lugar no ranking das economias mundiais. Porém, depois de alguns anos com crises sucessivas nos sectores das pescas, extracção de minérios e de urânio, o país africano está em franco crescimento económico, tendo atingido valores de 6,6% em 2010 e 3,6% no ano passado. No entanto, é dependente em termos energéticos, sobretudo de electricidade, mas apresenta generosas reservas de gás. Também se apresenta como sendo um estado africano no 129º lugar na tabela da dívida externa (portugal ocupa um honroso 24º lugar, UE em 1º e EUA em 2º lugares).

Estado soberano que, segundo o coeficiente de Gini, esconde uma das mais desiguais distribuições da riqueza, a Namíbia tem cerca de 5% de habitantes que falam português, sobretudo residentes junto à fronteira com Angola, a norte. Com Angola, aliás, a Namíbia mantém um diferendo político relacionado com rebeldes e refugiados angolanos estabelecidos na Namíbia. Mas os conflitos não se ficam por aqui: Botswana, Zâmbia e Zimbabué (essa democracia plena de liberdades e garantias!) são países com quem a Namíbia mantém atritos diplomáticos.

Recordo-me que o Chipre quis aderir à UE por motivos de defesa da sua soberania, ameaçada pelos turcos que ocupam metade da ilha onde Chipre se situa – metade essa correspondente à república turca de Chipre. Porém, o Chipre da UE prefere manter relações diplomáticas e comerciais mais com a Rússia do que com qualquer outro estado europeu (exceptuando a vizinha Grécia, claro). Este exemplo será, quanto a mim, aplicável a este pedido de adesão da Namíbia à CPLP: por forma a garantir o apoio de mais países às suas causas políticas, prretende aderir a comunidades de estados soberanos com peso suficiente para, diplomaticamente, levar a “bom porto” as suas intenções.

Embora este caso seja mais sério e mais legítimo do que o pedido da Guiné-Equatorial de adesão à CPLP, a Namíbia, que até possui boas relações bi-laterais com o Brasil e possui falantes de português no seio da sua população, não será, na minha opinião, um justo membro de pleno direito na CPLP. A ver vamos o que a comunidade decidirá.

Fontes:  www.cia.gov


Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana