Negócio Sem Risco? – Miguel Bessa Soares

Poderia dedicar estas linhas ao actual panorama, político, económico, financeiro e social português. Está como se sabe em preocupante crescente crise. Há um provérbio que faz a leitura correcta deste triste panorama: “Em casa onde não há pão, toda a gente ralha, e ninguém tem razão”. Assim é e sempre foi em Portugal, toda a gente grita toda a gente contesta mas seja qual for o partido na oposição ninguém apresenta alternativas. Trocamos o governo, e temos mais do mesmo. Se calhar a única saída para tudo isto é ponderar se não vale a pena, dar esses lugares na assembleia a quem nunca lá se sentou. Alguma diferença tinha que fazer… Ou pelo menos não traziam os tiques que existem há anos no partido.
Na verdade não me quero alongar muito sempre este assunto, há mais gente que o faça, e de certeza com mais conhecimento de causa.

No entanto tendo ainda em conta esse mesmo panorama actual, há uma coisa que me faz cada vez mais confusão. Afinal porque raio os bancos não podem ser um negócio de risco?
Qualquer desgraçado que abre uma empresa tem de ponderar se o capital aplicado vai dar lucro, fazer o seu trabalho sempre arrojado, mas nunca deixa de ter o receio que alguma coisa corra mal, e que algum negócio não vingue.

É assim desde vender batatas, a vender automóveis, ou alta tecnologia. À margem disto tudo vivem os Vendedores de Dinheiro, isto é nada mais nada menos do que o negócio que mantém vivo um banco. Mas aqui os governos não deixa que exista risco. Os bancos estão sem dinheiro (só com bens móveis e imóveis), chama-se a Troika e o povo paga para refinanciar os bancos. Esse mesmo povo quer comprar dinheiro para comprar uma casa, o banco obriga o povo a pagar para  um avaliador avaliar se o bem vale o que o pobre povo pede.
Note-se que este avaliador vai ao serviço do banco avaliar o bem, e somos nós que pagamos o seu trabalho. O avaliador certifica-se que o imóvel vale o capital pedido, e no entanto quando as coisas correm mal o imóvel pode já não valer o capital em dívida.
E a culpa é de quem? Correu mal, qualquer negócio envolve riscos, porque não podem os bancos correr esse risco?

Os governos um pouco por todo o mundo têm muito receio da perda desses gigantes do poder que são os bancos. E não há governo que não os tente proteger, nem que implique causar dolo ao povo que no fundo eles representam. Mas as coisas estão a mudar meus amigos. Recentemente uma noticia dava conta que a Google tem à ordem o capital que os EUA têm em dívida. À ordem, ou seja dinheiro para as despesas correntes.

Estes novos gigantes que são cada vez mais os detentores do dinheiro não vão nas estratégias antigas de abrir um banco, ou abrir uma seguradora. Investem cada vez mais o seu capital em novas tecnologias e em coisas que dêem mais dinheiro, sem sequer procurar os apoios dos governos.

O mundo pode estar mal, o país pode estar mal, mas a verdade é que um pouco por todo o lado começamos a ver novas maneiras de abordar os lobbys existentes. E as coisas estão a mudar.

Que no meio de toda a infelicidade de noticias recentes deste “Mundo ao Contrário”, seja este sinal positivo que dê algum alento.

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário