O antes e o depois das redes sociais – Bruno Neves

As redes sociais mudaram-nos. Eu sei que é um argumento recorrente, mas é verdade. Tudo era diferente antes de aparecerem as redes sociais. Não sei se melhor ou pior, essa parte já é muito discutível. Mas que era diferente era.

Por exemplo, dantes tínhamos menos “amigos” mas em contrapartida eles eram mais próximos. Antes, quando nos chateávamos com algum amigo era algo passageiro, fosse o que fosse estaria resolvido dez minutos depois. Dantes havia um grande desconforto em estar chateado com alguém, e tanto nós como a outra pessoa fazíamos questão de esquecer o que tinha acontecido e caminharmos novamente rumo ao horizonte juntos. Ok, talvez não caminhássemos juntos em direcção ao horizonte, mas vocês perceberam a ideia. E mais, nessa altura tanto os nossos amigos como os amigos da pessoa em questão faziam de tudo para conseguir a reconciliação! Obviamente que não nos esquecíamos do que aquela pessoa nos tinha feito, mas tenho para mim que perdoávamos mais facilmente.

Já pensaram como é actualmente? Hoje em dia se nos chateamos com alguém vamos logo para as redes sociais (que é o mesmo que dizer que vamos para o Facebook) fazer posts e comentários revelando o nosso estado de espírito. Vem ao de cima o que de pior há em nós e nota-se a milhas que estamos chateados com alguém. Aliás, nós fazemos de propósito para que alguém repare. Vá, admitam lá que o fazem. Tudo para que depois nos perguntem o que se passou e para nós podermos contar o que aconteceu.

Já para não falar da maior traição que existe nas redes sociais: desamigar alguém. Ah, você pertence aqueles 0,5% da população que ainda não tem Facebook e não sabe o que significa “desamigar”? É fácil, basta que pense um pouco. Vá, eu dou uma pista: é o contrário que amigar, de “fazer amigos” digamos assim.

A verdade é que todos nós temos uma grande percentagem de amigos no Facebook que nem nós sabemos bem o porquê de sermos amigos. Podem ser só conhecidos de vista, pode ser o vizinho ou pode até ser alguém que nem conhecemos mas que resolvemos aceitar o pedido. Mas todos nós temos casos desses, é um facto. Mas mesmo não conhecendo essas pessoas não nos passa pela cabeça desamiga-las do Facebook. É algo de anti natural. Tenho para mim que hoje em dia desamigar alguém do Facebook é o equivalente a noutros tempos nos envolvermos com a namorada do nosso melhor amigo. É a derradeira facada nas costas levando-nos a exclamar com surpresa: “mas eu pensei que eramos amigos!”

Por falar em desamigar eu tenho que falar desta campanha de tão genial que foi. A Burger King criou uma campanha que gerou polémica e que teve amplo destaque no Facebook. Para promover o seu novo “Whooper Burger” o Burger King lançou a campanha “Whooper Sacrifice”, onde propunha aos utilizadores do Facebook que sacrificassem dez dos seus amigos em troca de um copão de oferta de um “whooper burger”. O único senão era que os amigos removidos receberiam uma mensagem onde eram notificados de que tinham sido sacrificados por um “whooper”. Passados dez dias a campanha acabou por ser proibida no Facebook que alegou problemas de privacidade para banir esta campanha. Nessa altura já mais de oitenta e duas mil pessoas haviam sacrificado duzentos e trinta e quatro mil amigos em troca de vinte e três mil copões. E você quantos amigos “desamigava” sem pestanejar?

Eu não tenho nada contra as redes sociais, muito pelo contrário. Mas que em certos aspectos preferia que as coisas não tivessem mudado isso preferia…

Boa Semana. Boas leituras.


Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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