O caminho foi árduo mas valeu a pena – Bruno Neves

É incrível o impacto que pequenos acontecimentos podem ter na nossa vida. E não deixa de ser irónico que apenas muito tempo depois é que conseguimos perceber o quão importantes eles foram. Esta semana comemorei uma efeméride que para mim é revestida de muita importância e simbolismo. Podia estar a falar do 25 de Abril, mas não estou. É que na passada quinta-feira fez exactamente quatro anos que sou locutor de rádio.

Ser locutor de rádio nunca tinha sido uma ambição minha. Ao longo da infância tinha pensado em ser muitas coisas mas nunca locutor de rádio. Passei por diversas fases: quis ser pintor (porque adorava livros de colorir e achava sinceramente que tinha um talento natural para aquilo), jogador de futebol (tal como 99% das crianças pensava que seria o próximo fenómeno mundial, infelizmente estava errado), fotógrafo (graças á paixão da minha mãe por fotografia era frequentemente requisitado como “modelo” e a pouco e pouco fui também eu ganhando o gosto em tirar fotografias) mas também arqueólogo (lembro-me de pensar que seria essa a minha vida: fazer escavações em busca de pedaços de história do passado).

Ao olhar para trás percebo que estas profissões têm uma característica em comum: capacidade de comunicação. Senão vejamos algumas delas….um professor  apenas consegue transmitir a matéria aos seus alunos se possuir uma elevada capacidade de comunicação. Um fotógrafo necessita sempre de comunicar com os/as seus/suas modelos para desempenhar convenientemente o seu ofício. Um jogador de futebol que não tenha capacidade de comunicar com os seus colegas, com o seu treinador, e até mesmo com os árbitros, com os seus adversários ou com a imprensa está logo à partida condenado ao fracasso.

Se há quatro anos atrás não tivesse ido a uma festa aqui do meu concelho, e não tivesse aceite a proposta de ser entrevistado por um amigo meu num típico vox pop para a emissão da rádio à qual ele pertencia, com toda a certeza que hoje a minha vida seria bem diferente. Bastava ter decidido ficar em casa naquela noite para que o guião da história da minha vida fosse automaticamente reescrito.

Desde esse dia que faço rádio. Desde esse dia que esta paixão tem crescido dando-me a certeza de que há paixões maiores que a vida. Hoje não me vejo sem a rádio. Não consigo imaginar a minha semana sem aquelas duas horas de emissão semanal, sem todo o trabalho de pesquisa ou sem a escuta de centenas de músicas até chegar a uma playlist. Nenhuma sensação do mundo consegue sequer igualar o nervoso miudinho no momento em que entro em directo ou o peso sobre os ombros por saber que estou perante os microfones de uma das rádios locais mais ouvidas do país. A pressão e a responsabilidade são imensas mas são acima de tudo impostas por mim mesmo.

Hoje sei que é na rádio que quero construir carreira. Hoje tenho a certeza de que a minha grande paixão é sem dúvida a rádio. Mas isso não impede que ao mesmo tempo seja tudo aquilo que ambicionei em criança: pintor a tempo parcial (seja das paredes da minha casa, seja dos livros de colorir da minha afilhada), futebolista de fim-de-semana nos jogos de família com os meus primos ou mesmo fotógrafo dos momentos que valem a pena recordar para sempre.

Ao longo da vida serei tudo isto e muito mais, mas acima de tudo serei sempre locutor de rádio. Obrigado a quem me abriu as portas e me deu, e ainda dá, liberdade total para desempenhar a minha profissão. Obrigado a quem me ouve semana após semana. O caminho foi árduo mas valeu a pena.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
Visite o blog do autor: aqui