O dia em que conheci a Cegonha! – Aida Fernandes

O dia em que conheci a Cegonha…afinal ela existe mesmo…!
Como diria uma amiga minha…a minha alma está parva…! Antigamente as mulheres faziam sexo sem tirar a roupa…às escuras ainda por cima! E não é que para perder a virgindade passados já dois dias do casamento, teve que ser á luz da vela! Que crueldade, ainda por cima só os homens podiam ter prazer. Quem relata estes momentos fala de uma verdade que faz parte do passado, de uma cultura que felizmente foi evoluindo, uma cultura em que a mulher não podia dispor do seu corpo, ele pertencia ao marido, aliás a sexualidade era algo sujo, de que não se devia falar. Era a educação incutida pelos nossos avós e pais, a informação ficava pelo silêncio e ninguém sabia nada de nada, uma inibição completa, somente se deveriam seguir as ordens dos maridos, as mulheres deveriam ser funcionárias dos mesmos e ponto final.

Tantos anos levaram para que esta mentalidade fosse evoluindo, mentalidade baseada numa Constituição que era a Bíblia, o único livro que os nossos avós ou bisavós, conheceram para se afirmar com tais atitudes. Funcionava como um código Civil e Penal…códigos de conduta, códigos esses em que tudo era mais proibição que prazer, em que a desinibição possivelmente não passou pelos códigos, ou pelo menos não era assim interpretado, o que realmente condicionava o desenvolvimento da intimidade dos sentidos! Dar e receber amor e carinho dentro de uma relação não é somente pensar em ter relações, o uso dos sentidos faz toda a diferença, sem eles jamais os casais poderiam experimentar novas e gradáveis sensações. E agora eu pergunto? Como podemos nós incutir na cabeça destes seres já em idades avançadas, que eles estavam errados e que agora sim a mulher vive os seus direitos e não somente os seus deveres! Para alguns é fácil, para outros nem tanto, realmente não sei que diga, é muita evolução numa época para as suas cabeças. Não admira que alguns digam:-que pouca vergonha agora se vive, as mulheres andam todas descascadas, as mulheres mostram-se todas! Deviam ter a educação que nós tivemos!…a minha filha que andasse assim, eu é que lhe dizia! Mas são esses mesmos que estão sempre de olhinhos arregalados para ver um “rabo de saia”! O mesmo se passa em relação á mulher que viveu nessa época:- eu tinha vergonha de ser assim oferecida! Se fosse homem não queria as mulheres de agora! Se andasse assim o meu pai até me matava! Normal esta atitude, é o reflexo do Tabu ainda existente, demonstrando bem que permaneceram na sua cultura, nos seus costumes preservando a suas convenções sociais e religiosas, vividas numa época que consideram ter sido de acordo com os seus padrões morais. Mais uma vez cabe-nos ajudar a que eles possam agora não achar que tudo é pecado e imoral, mas sim entender que com a evolução e o passar dos anos, a cultura que era totalmente reprovável, agora dá lugar a uma nova cultura com mais abertura, mais satisfação e sobretudo mais conhecimento! Agora os bebés já não vêm na cegonha…e porque viriam naquela altura! Já pensaram nisso…apesar do seu código especial de valores, eles atribuíam o sentido a muitas coisas, que hoje ainda se desconhece a razão…estou a falar da cegonha por ser uma ave extremamente dócil, mistura generosidade e fidelidade…daí que sempre se falasse na tão chegada dos bebés pelo bico desta ave!

Mas querem saber a melhor…cheguem a velhinhos e vão ver o que é andar novamente numa cegonha…sim, sim, estou a falar a sério! Quando ficamos totalmente debilitados há um equipamento específico de transporte que tem por nome cegonha…portanto não se riam dos idosos, para lá caminham…Esta foi a experiencia mais curiosa que tive a nível de cuidados de geriatria, pensei para mim, afinal a cegonha existe…e se não foi para nos trazer ao mundo é agora para nos transportar para que possamos ter mais qualidade de vida.

Fiquei ainda com a ideia…desde pequena a pensar na cegonha vinda de França…e afinal ela anda por bem perto!
Comecei por falar em sexo (com roupa) …já vou no banho (sem roupa)! Talvez porque esteja muito calor!…e porque este diálogo foi mesmo no belo dia que conheci a cegonha! Quando precisei dela para transportar um idoso para um banho.
Posso garantir que a cegonha até era azul…devia ser Portista!
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A última Etapa