“O Governo tem trabalho para fazer durante as férias” – Nuno Araújo

Passos Coelho disse aos membros do seu governo, relativamente às férias, para “mostrarem bom senso e evitarem críticas desnecessárias” (segundo o jornal Sol online, de 23 de Julho). As férias gozadas pelos membros do governo não devem ultrapassar as duas semanas e, para além disso, deverão ser aproveitadas em Portugal, e não no estrangeiro. Passos Coelho dá o mote: está em Manta Rota, no Algarve, e Paulo Portas irá gozar férias no arquipélago dos Açores.

Mas Setembro terá de ser um mês muito profícuo em termos de trabalho político do executivo PSD-CDS. À cabeça da ordem de trabalhos, sruge inequívocamente a questão das privatizações. Privatizar, antes de mais, um canal da RTP, e duvidando entre o canal um e o canal dois. O canal um poderá oferecer uma maquia mais elevada para o governo, mas é canal com muita audiência e potencial; o canal dois oferece menores perspectivas de lucro, mas é aquele canal que tem uma audiência bastante residual (infelizmente, diga-se de passagem, pois é um canal com imensa qualidade na sua programação).

O que será que o ministro Miguel Relvas irá decidir? Creio que o canal a privatizar será o canal dois da RTP. Porquê? Porque a SIC e a TVI, em dificuldades financeiras, podem não conseguir lidar bem com a privatização de um canal da RTP, que pode “estoirar” com o mercado cada vez mais escasso da publicidade televisiva. Logo, vozes levantam-se a favor do serviço público de televisão, mas apenas visando que a RTP não veja privatizado nenhum canal – sobretudo porque a RTP tem limite para passagem de publicidade na TV, e a RTP 2 apenas tem publicidade institucional.

Passando para outros negócios, a privatização da TAP também irá fazer correr muita tinta em jornais. Porquê? Porque os pilotos da companhia aérea (ainda portuguesa e pública) pretendem ser accionistas da empresa aquando da sua reprivatização. Lufthansa, British Airways e Qatar Airlines parecem ser as mais interessadas em comprar a transportadora portuguesa que poderá, acima de tudo, abrir a essas empresas transportadoras aéreas as “portas de África”, acedendo a destinos como Cabo Verde, Angola e Moçambique. Mas poderão haver surpresas, e empresas de aviação de outros países também serão sempre candidatas a comprar a TAP.

Se o Presidente da República leva trabalho para as suas férias, como diplomas para aprovar, então o governo deve levar alguns quilos de folhas, para além dos seus portáteis. Mas eu recomendaria um livro de cabeçeira para Passos Coelho. “Arte da Guerra”, do mestre chinês Sun Tzu, que aborda como não fazer guerra, acima de tudo, de forma irracional e para além do comportável. Talvez, com esse livro, possa pensar sobre como não “fustigar” ainda mais o povo português com medidas de austeridade, pois a “guerra” já vai longa…

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental praia Lusitana