O Idiota da Aldeia – Um problema preocupante

É indiscutível que, na última década, se tem vindo a assistir a uma crescente proliferação de estabelecimentos de fast food. Com a difusão deste tipo de cozinhados, ricos em calorias e gordura, não é de estranhar que cada vez mais se observe um fenómeno preocupante que afecta já algumas centenas de portugueses. Não, não estou a falar de ataques cardíacos ou AVC’s. Também não me refiro à obesidade, pois toda a gente sabe que esse problema se resolve facilmente com uma dieta à base de heroína. O fenómeno de que falo reveste-se de maior gravidade e corrói toda a sociedade: pessoas que, quando se querem referir a “um hamburguer”, o denominam de “uma hamburga”.

Sim, eu sei que esta condição tende a afectar idosos que nunca tiveram a oportunidade de aprender inglês. Mas isso, por si só, não serve de desculpa. Não serve porque nós tentamos, repetidamente, ensinar-lhes a forma correcta de pronunciar a palavra e, mesmo assim, os sacanas dos chassos continuam a repetir a façanha. Aqui entre nós, eu desconfio que a comunidade geriátrica se reuniu e combinou nunca pronunciar adequadamente nenhuma palavra estrangeira, apenas e só para gozarem com a nossa cara. É que os velhos, para além de manhosos, não têm grande ocupação e precisam de se entreter de alguma maneira. Mas como se tratam de cidadãos idosos, eu controlo-me e deixo passar. Até porque eles vão quinar dentro de pouco tempo, especialmente se andarem a enfardar hamburgers.

Só que não sou tão brando nesta questão no que se refere à população abaixo dos sessenta. Uma coisa é um velho que nunca aprendeu inglês pronunciar a palavra dessa forma, outra é alguém na casa dos 20 ou 30 anos. As únicas pessoas desta faixa etária que têm desculpa para o fazer, são aquelas que acordaram agora de um coma de 20 anos ou então as que sofrem de paralisia cerebral. Caso contrário, qualquer jovem adulto é bombardeado a toda a hora pela forma certa de pronunciar hamburguer e, portanto, se o disser de outra maneira é porque muito provavelmente estamos a lidar com um asno que insiste em impôr aos outros o dialecto neandertal que criou na sua pequena mente.

“Hamburga é como se chama em português” – contra-argumentam os asnos, quando confrontados com esta questão semântica. Apesar de ser de enaltecer a preocupação com a língua portuguesa que apresentam, é pena que este argumento não faça sentido nenhum. Se pretendem referir-se a um hambúrguer em português, então denominem-no de sandocha de carne picada – é bem mais “tuga” e assim evitam fazer papel de atrasado mental ao tentarem criar traduções idiotas. É que pelo andar da carruagem, qualquer dia estamos numa casa de pasto qualquer e, para que o servil compreenda o que queremos ingerir, temos que pedir “uma hamburga dupla de bácom, uma sete upe e um balde de nuguétes”.

Mas existe mais para além da questão semântica. O que estes asnos nem se apercebem é que, ao o chamarem de “uma hamburga”, estão a impôr ao pobre hamburguer uma mudança de sexo forçada. Através de uma alteração aparentemente inofensiva no seu nome, o hamburguer, que desde o seu nascimento sempre foi criado numa cultura viril de calorias e lípidos, é destituído de toda a sua masculinidade em breves segundos. E não há nada que ele possa fazer para o evitar.

Assim, peço ao leitor que me ajuda a travar esta epidemia da forma que lhe for possível, seja corrigindo estes asnos ou simplesmente forçando-os a ingerir ácido. Por favor, não me obriguem é a viver num mundo onde sempre que me apeteça comer fast food, seja obrigado não só a fazer o pedido numa pseudo-língua criada por asnos acéfalos, mas também a ter que ingerir sandes transexuais.

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia