O preço de (mais) um capricho: o segundo resgate – Nuno Araújo

Até parece que Cavaco já sabe que irá convocar eleições antecipadas, mas teve de fazer um discurso do género “eu avisei-vos”, onde abordou os perigos de se optar por eleições legislativas antecipadas. Para isso, mais vale marcar já eleições antecipadas. Já se está mesmo a ver que o segundo resgate é inevitável e, por esse motivo, Vítor Gaspar saiu do governo, depois Paulo Portas saiu porque não queria ser o número dois e ser obrigado a apresentar uma reforma do estado à Troika que só o deixaria mal na fotografia (se é que essa reforma está pronta a entregar…). Nisto tudo Portas demite-se, Evo Morales não pôde aterrar em Lisboa, e Maria Luís “SWAP” é ministra para um governo de gestão.

A novela política da semana passada provou-nos, a todos, que os políticos responsáveis pela gestão do país são uns verdadeiros amadores, ou então serão meros experimentalistas. É que o minimalismo político presidencial de Cavaco Silva não deve entender soluções do género “tudo menos eleições”, nem preconizar acordos tripartidos, só para colocar o CDS como o “terceiro excluído”. Cavaco Silva parece ter “aversão” a eleições e isso, meus amigos e minhas amigas, na minha linguagem democrática significa aversão à democracia. E a aversão à democracia demonstrada pelas primeira e segunda figuras de estado, democracia essa dos tais “cidadãos-carrasco” (de acordo com as palavras proferidas pela Presidente da Assembleia da República Assunção Esteves), é o preço que o país vai pagar por (mais) um capricho: o de Cavaco não convocar, quanto antes, eleições antecipadas. Que será forçado a convocar, obviamente.

Na semana passada Cavaco Silva só supreendeu quem achava que Cavaco Silva não se tinha importado de “ficar mal na fotografia” de empossar uma ministra altamente comprometida com um negócio que lesou o estado em quantias que pagariam um quarto do resgate ao BPN. Para além disso, Paulo Portas era o director do “Independente”, jornal que ajudou à “derrocada final do cavaquismo”.

O Presidente da República decidiu mesmo não aceitar a proposta de Passos Coelho, que incluia Passos e Paulo Portas no mesmo governo (outra vez!), e assumiu uma postura mais proactiva do exercício do seu cargo de chefe de estado. O resultado traduziu-se numa escalada dos juros da dívida pública, e o afundar dos bancos na bolsa, onde o banco BANIF, ajudado pelo estado, passou a valer cinco cêntimos (0,05 €) por acção. Mais: Portugal voltou ao chamado “clube da bancarrota”, e, pior, o europeísta Juncker demitiu-se de primeiro-ministro do Luxemburgo e agora pouca ou nenhuma “gente” irá defender o nosso país nas instâncias comunitárias, isto sabendo que nem os ministros do governo português o conseguem fazer.

O que Cavaco parece ainda não ter percebido é que a situação política está, ao contrário do que parece, fora do seu controlo: o PS não irá aceitar um acordo que o impediria de fazer oposição. Para o PS, assinar o memorando da Troika é uma coisa, juntar-se ao governo de maioria PSD-CDS é proibitivo, pois deitaria muita coisa a perder, como por exemplo a vitória em eleições legislativas e até a própria actual liderança socialista.

Pasme-se, então, perante a situação actual de Portugal: tem um governo com um Paulo Portas demissionário, algo que Passos não aceitou; tem um Presidente da República que não aceita a proposta de uma maioria e, vai ele mesmo, tentar uma solução condenada ao fracasso à partida.

Aqui, amigas e amigos, a democracia tem de funcionar, e só resta uma solução a Cavaco: convocar eleições antecipadas, preferencialmente no dia 29 de Setembro, data das eleições autárquicas.

ELEIÇÕES NOS PELOURINHOS 2013

Já aqui tive oportunidade de ir falando de alguns pelourinhos, hoje irei falar de Oeiras e de Loures.

Oeiras

Volto a falar de Oeiras, por mais uma candidatura ir ser apresentada esta semana: o engenheiro Carlos Gaivoto é o candidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Oeiras.

A campanha do BE em Oeiras já tem slogan: “cidadania, ecologia, democracia”.

Num concelho onde mais uma vez se irão medir forças à direita entre o candidato Moita Flores do PSD e a candidatura do AOMAF de Paulo Vistas (agora sem Isaltino de Morais), com o ex-candidato do PS, Paulo Freitas do Amaral, agora a “baralhar as contas” como candidato pelo CDS-PP (partido da ainda actual coligação governativa, que não coliga para Autárquicas em Oeiras), a esquerda faz-se representar pelo PS de Marcos Sá, CDU de Daniel branco e Bloco de Esquerda com Carlos Gaivoto.

O Bloco de Esquerda afirma-se como a alternativa em Oeiras, contrariando o populismo e o eleitoralismo de outras candidaturas, e apresentado uma proposta política coerente, assente na luta pela cidadania, ecologia e democracia da República do Estado Social e por um programa de ecologia e sustentabilidade urbana de Oeiras.

O Manifesto desta candidatura encontra-se online na sua página do facebook.

Recorde-se que em 2009 a candidatura de Isaltino Morais obteve cerca de 42% dos votos dos oeirenses, derrotando o PSD coligado com o CDS-PP e o PPM, que somou apenas cerca de 16%. A segunda força política no concelho foi mesmo o PS de Marcos Perestrello, com cerca de 26%.

A luta “renhida” à direita entre Vistas e Moita Flores pode trazer surpresas nos próximos resultados eleitorais, ou talvez não.

Loures

Dentre os cinco candidatos já apresentados em Loures, surge mais um candidato dinossauro – Fernando Costa, apoiado pelo PSD (pois claro), e pelo PPM e MPT, que esteve à frente da câmara Municipal de Caldas da Rainha nos últimos 27 anos – é obra!

Na conjuntura actual da governação nacional, não é de estranhar que este candidato não seja apoiado pelo CDS-PP, mais uma vez, como em tantos outros casos, embora não se conheça ainda o candidato deste partido em Loures, ou se haverá candidato.

A minha aposta vai no entanto para uma disputa muito equilibrada entre PS e CDU.

O PS até agora liderado nesta Edilidade por Carlos Teixeira, que em 2009 somou cerca de 48% dos votos, detendo maioria absoluta em sede de reunião de Câmara, é agora representado pelo candidato João Nunes, que terá como opositor de peso o actual líder parlamentar da CDU, Bernardino Soares.

De salientar ainda o candidato Jorge Costa, pelo BE, que concorre tentando inverter a lógica daquilo que têm sido os últimos resultados para o BE em Loures.

Aguardemos então a votação a 29 de Setembro de 2013.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana