Ó querida, já vais tarde…

Ó minha querida, foi com grande alegria que recebi a tua carta. Deixa-me que te diga, já vais tarde!
Se achas que os 18 anos de casamento foram difíceis para ti, então desafio-te a imaginar como foram pesarosos para mim… Sabes, quando nos casámos eras linda. Estavas na flor da idade. Tinhas tudo no sítio, como tu própria disseste, e emanavas uma aura e alegria que contagiava qualquer um. Hoje em dia o sentimento que provocas nas pessoas é outro. Nem me atrevo a dizer qual… Digamos apenas não és mais do que uma sombra da mulher que outrora foste.

Há quem diga que as mulheres atingem o seu pico aos 30. Talvez tenham razão, ou então talvez não… O que eu sei é que o teu auge foi entre os 22 e os 24. Depois caíste a pique. Descarrilaste mais rápido que um TGV a 200km/h. Ai, ai, pobre de ti. E pobre de mim que assisti a tudo.

Com que então consideraste uma otária, por teres casado comigo sem conheceres nada do mundo, não é verdade? Então imagina como é que eu me senti, ao casar com uma pobretanas sem eira nem beira. Uma desgraçada que eu insisti em amar, apesar de todos os meus amigos me disserem que apenas estavas atrás do meu dinheiro… Mas (in)felizmente eles estavam enganados. Tu não eras assim tão ambiciosa, apenas querias um tecto sob o qual dormir e alguém que te levasse a jantar fora de vez em quando. Nunca foste ambiciosa…

Ó minha querida… Não sabes o quanto me ri quando me apelidastes de Lorde Farquaad. Adorei a comparação. Sim, podemos dizer que sou uma espécie de Lorde Farquaad: um otário que julgava estar a conquistar uma linda princesa quando na realidade estava apaixonado por uma ogre. Uma ogre verde, feia e gorda que não sabia bem o que queria da vida. Ah! Ah! Agora que penso bem percebo que nem para insultar tu prestas.

Sabes porque é que a coisa foi andando nos primeiros dois anos de casamento? Porque havia paixão! Porque suspiravas cada vez que me vias. Porque tinhas orgasmos, enquanto me agarravas pelos cabelos e me apertavas contra as tuas coxas. Lembras-te disso? Pois… Acredito que não! Nunca tiveste uma boa memória. Talvez por causa do álcool, talvez porque simplesmente és poucochinha.

Queres saber porque é que já não há paixão entre nós?! Eu digo-te: porque engravidaste! E não, não me refiro ao facto de teres engravidado dos nossos filhos. Por isso até te agradeço. Refiro-me à quantidade de vezes que emprenhaste pelas ouvidos Por cada comentário das tuas amigas, da tua mãe, da tua irmã, até da senhora do café. Sempre que alguém te sussurrava disparates ao ouvido a nossa relação piorava. Achas que culpa de não ter dado certo foi minha? Julgas que foi por seres inexperiente? Pois enganas-te. A culpa foi da tua falta de amor-próprio.

Sim, deixo as cuecas espalhadas pelo chão. E sim, deixo a tampa da sanita aberta. Eu mijo com ela aberta, qual é o problema?! Tu fecha-la sempre que a usas e não me vês a queixar, pois não?! Pergunto-te sobre qual o programa para lavar a roupa?! Sim, pergunto. Deixo-te cozinhar sempre, apesar da tua comida saber a sola de sapato? Sim, deixo. Será que alguma vez paraste para te perguntar o porquê?! Não… Pois claro que não. Tu nunca perguntas nada. Tu sabes tudo. Sempre soubeste e sempre saberás! E ai de quem diga o contrário… Não se pode contrariar a Senhora Dona detentora da razão. Mas sossega, eu digo-te: faço-o para ver se tu fazes alguma coisa em casa, sua lesma preguiçosa.

Deixo as cuecas espalhadas pela casa na esperança que a bagunça te motive para fazeres algo da vida, em vez de passares os dias prostrada no sofá a ver programas na T.V.. E como as mistelas que cozinhas na esperança de que um dia… um dia qualquer… tu consigas confeccionar algo que seja comestível. Sabes querida, és uma vergonha para a tua espécie.

Queixas-te que ganho pouco. E do pouco que ganho ainda trago menos para casa. Pois muito bem, então explica-me porque é que tu não trazes nada?! Pois… Bem me pareceu. E já agora, queres mesmo falar sobre sexo, querida? A sério que achas que tens moral para falar sobre isso?! Eu estou-me a cagar se me chamas Pedro, António ou Fagundes. Chama-me o que quiseres mas ao menos vê se aprendes a fazer um “bico”. Pede ajuda à tua mãe, ela é top. 5 estrelas. Por diversas vezes estive para lhe pedir para te dar umas lições. Mas optei por não o fazer, sabes porquê? Porque era mais uma coisa que ela te ia dizer que não sabias fazer. Tive pena de ti…
Ai, com que então, irrita-te que eu jogue playstation com os putos… Olha, a mim irrita-me que nunca tivesses tido tempo para brincar com eles. Sabes o que te digo. Prefiro mil vezes que os miúdos cheguem atrasados porque ficaram a brincar, do que saber que eles não brincam porque a mãe deles é uma atrasada que não tem tempo para brincar.

Querida ex-esposa, para terminar quero apenas dizer-te que estou feliz por teres decidido conhecer este mundo e o outro. Pelo menos no que toca a pilas. Vai ser proveitoso para ti. Uma boa experiência de vida (sexual). Mas em nome dos nossos filhos deixa-me fazer-te um pedido: ao menos cobra por isso! Já que estás a pensar em transformar-te numa prostituta intercontinental ao menos arranja maneira de lhes conseguires enviar algum dinheiro pelos anos e Natal.

Um beijo muito grande e um grande obrigado da minha parte.
Atentamente,
A melhor coisa que alguma vez te aconteceu na vida!

Crónica enviada pelo leitor Luís Martins
Este é um artigo de humor dedicado à crónica de Sandra Castro – Querido, mudei de querido!