O sono eterno – Laura Paiva

“Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!…”

Trovante- Fim (quando eu morrer)

O fim, o adeus, o sono eterno… à morte ninguém ilude, ninguém escapa.
Não gosto de pensar na morte nem de lhe dar importância mas ela é inevitável.

Chegará o dia em que será dada por terminada a minha missão por estas bandas. Gosto de pensar que o que me espera é um paraíso – nuvens fofas de algodão, anjos lindos, perfume, bolo de bolacha, chocolate, flores, música, gatos e cães mas o mais importante será o reencontro com aqueles que já me privaram da sua companhia.

Desejo que a minha partida seja em paz e sem atribulações. Se possível, à laia de último desejo, espero que me deixem partir durante o sono, sem aviso, sem prazos ou despedidas…

Quando eu partir, não quero lágrimas – quero sorrisos pela recordação de momentos especiais.
Quando eu partir, não quero flores – quero velas que iluminem o meu caminho.
Quando eu partir, não quero despedidas – quero apenas um “até já” em surdina.
Quando eu partir, não quero a melhor fatiota – quero estar confortável, com um pijama e pantufas, para dormir o sono eterno.
Quando eu partir, não me escondam sob a terra – deixem-me voar ao sabor vento…

Se eu partisse hoje, tanta coisa ficaria por dizer, por fazer, por ver e experimentar…
mas levaria comigo o prazer e a cumplicidade imaterial com a vida – o coração cheio pelo amor da família e dos amigos, o cheiro a maresia, o calor do sol, o som da chuva, o azul do céu, o sabor do chocolate, o perfume das flores, as noites quentes de verão…


Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos