Onde está o comando? – Maria João Costa

Pior do que ser segunda-feira de manhã, pior do que ficar sem manteiga para as torradas do pequeno-almoço, pior do perder a “marmita” no metro (talvez isto seja mau demais), é perceber que o comando fico ao pé da televisão e nós já estamos prontos para fechar a pestana. É aquele momento em que só nos apetece mergulhar nos lençóis e fazer de conta que não ouvimos uma mosca, à espera que o temporizador tenha ficado ligado sem querer, e rezar para que a televisão se desligue sozinha. Mas nestas situações, “deus” faz de conta que não nos ouve, e ainda faz com que a distância entre nós e o comando pareça a subida dos Himalaias.

Quando não se dorme sozinho, há sempre a possibilidade de fazer chantagem emocional, prometer este mundo e o outro, e no fim conseguir que o outro se levante da cama e vá a correr buscar o comando. Mas também há possibilidade de ele já ter feito isso dez vezes, de nunca termos cumprido as promessas, e de ele adormecer com um avião em cima sem problemas. Aí, temos mesmo que por pés a caminho, antes que o despertador toque para mais um dia de trabalho.

A correr, ao pé-coxinho, de gatas, quando se consegue chegar ao comando é o momento da vitória, mas depois, quando voltamos a entrar na cama há mais um desafio: voltar a aquecer o nosso cantinho. É impressionante como aqueles centímetros conseguem arrefecer à velocidade da luz, em segundos parece que deixamos cair nos lençóis um cubo de gelo.

Tilintamos os dentes, fazemos “conchinha”, e parece que nada aconteceu. Adormecemos.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!