Paciência…muita Paciência! – Aida Fernandes

Na sequência da cronica anterior, onde em breves palavras identifiquei o Alzheimer como uma das principais causas que levam os familiares a recorrerem a Instituições…lares de idosos, gostaria de salientar que estes idosos requerem um tratamento especial, pautado de muita paciência e muita adaptação.

Há quem diga que muitas doenças não são mais do que a consequência da nossa dificuldade de adaptação ao mundo complexo que vivemos, onde ultimamente as palavras de ordem se prendem a este conceito. Na realidade tratar de pessoas com carências a este nível é sem sombra de dúvida um teste á nossa capacidade, á nossa paciência…aos nossos limites.

Ouvimos frequentemente dizer, -eu ficava tolinha se lidasse com estas pessoas diariamente! Realmente não é tarefa fácil, mas alguém tem que o fazer, alguém tem que acolher, cuidar, mimar e proporcionar-lhes uma qualidade de vida justa. Não é fácil, estar diariamente a falar e sentir que as nossas palavras pura única e simplesmente não são captadas, poderia ser motivo de desinteresse, mas não pode nem deve, tem que ser sim, motivo de muita entrega, muita dedicação e muita paciência.

A palavra chave em cuidadores deveria ser…PACIÊNCIA…seguida de entrega e dedicação, nomeadamente na doença de Alzheimer.

Antigamente não se falava em Demências…eram todos tolinhos! Hoje sabemos que as diferenças existem, os doentes podem ser acompanhados com muito mais conhecimento…pelos psicólogos, neuro-psicólogos, psiquiatras….podem ter tratamentos muito mais eficazes e atempadamente.

No entanto a doença existe e apesar de todo o avanço da medicina, há situações em que teremos que vivenciar como a maior das verdades…aceitar e cuidar de um ser, que aos poucos se vai esquecendo quem é, quem somos, esquece a sua ligação com o mundo, fruto de uma memória que se está a tornar quase nula.

A memória de curto prazo barreu-se! E agora!onde estou e com quem? A noção do espaço e do tempo foi-se! A memória a longo prazo também já se vai perdendo…caminhamos para a fase difícil, em que a pessoa está totalmente dependente de quem cuida dela. A seguir vem agressividade ou a apatia, tudo é esperado, porque sem memória e com a doença a evoluir, o comportamento vai-se alterar, a instabilidade emocional dá lugar a uma série de situações que exigem muito dos seus cuidadores.

Como agir perante um paciente que não reconhece o seu próprio filho, não lhe reconhece nada vezes nada, o seu carinho, a sua dedicação, o seu esforço para que ele se sinta ainda acompanhado pela família! Só quem passa por esta experiência consegue definir o conceito de alzheimer, vai muito mais além da multiplicidade de comportamentos menos devidos, como esquecer-se de todas as tarefas.

Deixar o fogão ligado( quando ainda estão na sua própria casa) fugir e tentar ir para locais que trazem marcas do passado, trocar o lugar ás coisas, ter uma preocupação exagerada com as contas a pagar, dizer frequentemente as mesmas palavras, a agitação constante, a desorientação, a confusão e muitos outros comportamentos são difíceis de gerir, mas o não reconhecimento da família é uma dor insubstituível.

Reconhecer todos estes comportamentos não é novidade para muitas pessoas, lidar com eles diariamente é um desafio. Um desafio que nos coloca não só num espelho como nos faz sentir a realidade mais de perto.

A todos aqueles que ainda temem lidar com idosos espero contribuir para que aos poucos vejam esta realidade como um bem necessário á sociedade actual.

O maldito do Sr. Alemão (Alzheimer) pode chegar a qualquer um de nós! E aí também vamos querer quem tenha muita paciência para tratar de nós.

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa