Panorama – Tudo muda

Já diziam os antigos que apenas a morte é certa. Na verdade tudo o resto muda. Lembro-me bem de ouvir os meus avós dizerem que cinco tostões davam para muita coisa e que era muito dinheiro. Lembro-me ainda melhor dos meus pais me dizerem que cinco escudos era muito dinheiro também. Certamente não irei dizer aos meus filhos que cinco euros é muito até porque com cinco euros mal conseguiremos almoçar convenientemente.

O que antes era muito hoje em dia pouco valor tem. Mas não pensem que isto se aplica apenas a dinheiro, antes fosse assim. Na verdade também os valores mudaram, a importância da família e dos amigos é cada vez mais descurada. A polícia, os professores e todas as outras figuras de autoridade são desrespeitadas. Dizem que a juventude está perdida e os pais queixam-se que não sabem o que hão de fazer com os filhos. Penso que o problema é mesmo esse, não se trata do que hão de fazer agora mas sim o que haviam de ter feito há muitos anos atrás. Para uma boa educação as televisões e computadores não podem ser as baby-sitters, tem de haver um empenho dos pais em criarem as suas crianças. Sei que não é fácil e que muitas vezes mal à tempo para o fazerem, mas isto é mesmo importante e deverá ser a prioridade de qualquer pai, pelo que terão de arranjar algum tempo. Trata-se de arranjar algum tempo agora ou então daqui por uns anos não saberem o que fazer com os filhos.

Antes nem todos podiam estudar e serem doutores e engenheiros, hoje em dia isso está ao alcance de qualquer um que se pretenda aplicar para o conseguir. Muito embora isto seja bom, de que vale ter um curso superior e ir trabalhar como empregado de caixa num supermercado? De que vale ter um grau que muitos outros têm em áreas que estão sobrelotadas. Além do mais, quem vai tratar dos jardins e recolher o nosso lixo? Qualquer dia certamente o 12º será requisito para tal. Mas afinal de que adianta formar e qualificar os nossos jovens e jovens adultos para que depois fiquem a desempenhar funções muito aquém das suas capacidades e expectativas?

Depois claro está que há aqueles que trabalhar como operador de caixa?! nunca na vida depois de terem estudado para serem advogados. Então qual é a solução? Ficar a mandriar por casa ou pelos cafés à espera que algo caia do céu? Se não fosse necessário as pessoas trabalharem para ganharem dinheiro e viverem até podia ser, mas se estes se recusam a trabalhar alguém irá por eles pagar. Inicialmente serão mesmo os próprios pais que irão levar as mãos à cabeça sem saberem o que fazer, depois seremos todos nós contribuintes que iremos pagar subsídios a estes que se recusam a trabalhar, como se já não bastasse termos de pagar os subsídios daqueles que sim querem trabalhar mas que, infelizmente, para os quais não há trabalho.

Talvez por tudo isto estejamos a assistir a uma reestruturação na maior parte das empresas. Antes os empregados eram tratados como pessoas, com a evolução dos tempos passaram a ser apenas números. O desempenho de todos os funcionários passou também a ser avaliado em função dos números e dos benefícios que traziam às empresas com o seu trabalho. Ainda que possa concordar no aspecto de um empregado que não desempenhe as suas funções de forma satisfatória seja dispensado sem prejuízo para a empresa, penso que as empresas procuram abusar desta situação eliminando dos seus quadros funcionários que ganham salários maiores, principalmente trabalhadores com vários anos de experiência.

No entanto, actualmente nesta época atribulada em que vivemos já nem isso chega, não interessa se um trabalhador desempenha bem a sua função, se a companhia conseguir que outro funcionário faça o mesmo trabalho (ainda que pior) por menos salário e menos regalias, certamente irão trocar de empregados para reduzirem nos custos. Isto além de agravar a situação dos próprios empregados, situação na qual muitos portugueses se encontram, aumenta também os números de desempregados e retira importância às qualificações que muitos têm ou pretendem adquirir. Cada vez menos os canudos valem alguma coisa, apesar de serem cada vez mais caros e dispendiosos.

Portanto o que ontem era valioso, hoje nada vale e, certamente, o que hoje vale amanhã nada será. A pensar no vosso futuro, invistam antes nas vossas relações familiares, de amizade e amorosas porque, venha o que vier, essas serão as pessoas que convosco estarão. Os empregos e canudos cada vez menos significam algo e não é aí que reside a felicidade e satisfação pessoal de cada um e acredito que isso é algo que nunca há de mudar.

Crónica de Celso Silva
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