Para uma teoria geral do esquecimento – Francisco Capelo

Acordei estremunhado e estranhado, também.

Dei por mim acordado, foi o que foi.

Levantei-me lentamente. E voltei à cama dois milisegundos depois.

O relógio acordou-me. Uff, novamente oito horas. Agora, 8 horas e 60 segundos após.

Decidido, levantei-me, agora definitivamente.

Olhei-me ao espelho: uma barba precisava de ser feita, ou afeitada, falando em espanholês.

Nada feito. Voltei à cama.

Bom, já agora ligo o rádio, não ?

Praias desertas, em pleno Julho ? Que é isto, afinal ?

Pela descrição do radialista, há análises feitas; muitas; todas. Feitas por especialistas, e tudo: um luxo, é o que é, pelo menos para este país à beira mar plantado.

Há análises ? Parece que há – mas não são divulgadas.

O que diz a capitania ? – “Não vão à água !” – bandeira amarela em todo o lado, desde Carcavelos até à Costa da Caparica.

Mas… como saber então quando podem os veraneantes voltar a tomar banhoca ?

Uma vez que as análises são feitas mas os seus resultados não são divulgados, como saber isso ?

Muito fácil: graças à Chico- espertice saloia bem tuga das capitanias e dos nadadores- salvadores, as pessoas – que se recusaram a obedecer às bandeiras amarelas que foram erguidas por todo o lado – disseram que nada lhes aconteceu à pele, portanto um dia depois tudo ao banho !!!

Digam-me uma coisa:

O QUE DIABO TÊM AS ANÁLISES À ÁGUA A VER COM ESTA PALHAÇADA ?!??

Se não existem laboratórios ou especialistas a sério que saibam interpretar os resultados das análises neste país, digam-no abertamente ! Ou então se as análises foram feitas para inglês ou francês ou diabolês ver, assumam-no !!

Micro algas isto, micro coisas aquilo, todo este palavreado para quê, não me dizem ?

Se no final de contas é o senso comum a ditar a sua pobre lei…

Crónica de Francisco Capelo
O Suspeito do Costume
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