“Pare, escute e olhe” – Mara Tomé

Que sou controladora, já mo disseram várias vezes.
Que não posso controlar tudo, também já mo disseram várias vezes.
Que gosto de ter algum controlo na minha vida e de quem me rodeia, também já mo disseram e assumo.

De vez em quando é preciso parar. É preciso ter noção dos nossos limites, de ter algum auto-controlo, de seguir pelo caminho mais difícil e longo e ignorar aquilo que nos apetece fazer no momento – sucumbir à autocomiseração, deitarmo-nos numa cama e não nos levantarmos nem para comer.
Estes momentos têm tendência a repetir-se, esporadicamente, na minha vida, não sei se para me dar um abanão ou se para ver se continuo a ter força ou vontade de lutar, não sei porquê nem para quê. Só sei que acabo por ter que pôr algumas coisas em modo pausa, refletir calmamente, precisar de alguém do meu lado com a lucidez e frieza que já não tenho, redefinir prioridades sem nunca mudar a prioridade número 1: as minhas filhas e, por acréscimo, a minha família.
Costumo dizer que também devo ter algum problema sensorial mal resolvido pois acabo por me deixar afetar pelo estado do tempo (nem imagino como seria viver num país mergulhado na penumbra metade do ano ou ter temperaturas abaixo ou até zero o ano todo) e isto, por muito estranho e absurdo que possa parecer, pega-se e cria uma espiral muito pouco benéfica no nosso t2. Se eu ando mais agitada/elétrica/ansiosa/preocupada/angustiada, as piolhas ficam mais agitadas e ansiosas, com mais predisposição a terem meltdowns, o que, por sua vez, me vai enervar e as enerva a elas e quando damos por nós, estamos as três a tornar o t2 num manicómio, perante as ameaças repetitivas do marido de vai pedir ao chefe para o pôr a trabalhar em vez de lhe dar folgas.
Ora, assim, o ideal é mesmo parar e respirar fundo. Não dá para fugir do trabalho mas dá para o gerir de forma mais eficaz; não dá para evitar uma birra autista mas dá para desviar o foco de atenção ou proporcionar momentos de relaxamento (uma banheira cheia de espuma, um jogo de pinturas com pincéis, puzzles, andar descalço pela casa com meias fofinhas, preparar os nossos pratos preferidos, etc.) e passar tempo de qualidade juntos, nem que sejam apenas 10 ou 15 minutos antes de pegarmos naquele projeto que tem que ser entregue ao chefe no dia seguinte. Não dá para evitar – nem é conveniente fazê-lo – a ignorância ou alguma crueldade das pessoas mas, já me dizia a minha avó, que “aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes” e, com o passar do tempo, essa imunidade acaba por se criar.
Há momentos assim. Momentos de extrema ansiedade e pavor, que nos colocam à prova uma e outra vez, e que exigem autopreservação e recolhimento. Para nosso bem e para o bem de quem nos rodeia.

Talvez seja apenas eu a querer assumir o controlo do que me escapa ao controlo… Ou talvez seja só eu a querer ser eu mesma outra vez…

Crónica de Mara Tomé
T2 para 4