Pessoal e Intransmissível – Bruno Neves

Ler um livro é assim mesmo: uma experiência pessoal e intransmissível. É uma explosão de sentimentos. É andar na corda bamba entre a alegria e a tristeza, entre o sorriso e o esgar de dor, entre a gargalhada e o choro compulsivo. Este é um texto que só os verdadeiros leitores entenderão na totalidade.

Para mim a humanidade divide-se entre os leitores e os não-leitores. Os primeiros são viciados em ler. Livros e não só entenda-se, porque perante um roteiro turístico de Fornos de Algodres (sim, existe mesmo uma terra com este nome: pertence ao distrito da Guarda, tem 131,45 Km2 e uma população de 4989 habitantes segundo os Censos de 2011) o genuíno leitor não vai recuar e atirar-se-á a ele de cabeça como se o mesmo se tratasse de um génio da literatura russa. Ok, talvez o entusiasmo não seja o mesmo, mas vocês perceberam o exemplo. Por sua vez o não-leitor não só não lê como não consegue perceber como é que alguém pode gostar de ler. “Mas são só letras num papel, onde é que está a piada nisso? E ainda por cima dá sono, como é que gostas de ler?” Estas são as mesmas pessoas que perante um jornal diário ou semanal apenas dão importância às chamadas “gordas” não se dando sequer ao trabalho de ler absolutamente mais nada.

Os verdadeiros leitores não se satisfazem com estas novas tecnologias. São capazes de as usar, mas não estão totalmente satisfeitos com elas. Usam-nas porque facilitam o processo e lhes permitem levar para qualquer lado uma quantidade gigantesca de livros num simples aparelho. Mas se lhe derem a escolher ele vai optar pelo livro em formato físico. Porque nada substitui o toque do papel, o seu cheiro e o seu peso. Sim, o seu peso. Ler um livro é uma experiência que deve envolver todos os sentidos. O próprio peso do livro (que obviamente varia consoante o livro em questão) é um elemento importante porque faz com que a cada momento nos lembremos do peso (não literal, do objecto, mas simbólico) daquela obra e do seu autor.

Eu sempre fui um apaixonado pela leitura. Em pequeno era um voraz consumidor de livros de banda-desenhada. Lia-os o mais depressa que podia num misto de entusiasmo e tristeza. Entusiasmo porque era uma história nova, com um desenrolar imprevisível que podia levar-me a qualquer parte do mundo sem sair do meu lugar na segurança do meu quarto. Tristeza porque quanto mais depresse lesse aquela história mais depressa ficaria sem nada para ler outra vez.

Apesar de ainda gostar de ler banda-desenhada acabei por adquirir também outros gostos, contudo o misto de alegria e tristeza mantêm-se sempre. Para mim um dia sem ler é um dia que não foi aproveitado na sua totalidade. Jornais (diários ou semanais, de desporto ou não) ou livros, é indiferente, é preciso é lê-los. Actualmente, por exemplo, estou a ler três livros diferentes ao mesmo tempo. Isto sem esquecer o jornal semanal que compro religiosamente. Ler não é nem nunca será uma obrigação, mas sim um prazer. Sim, a palavra “prazer” é passível de diversas interpretações contudo não me refiro a literatura erótica (e se há em grande quantidade e qualidade). Alias, quem pensou numa outra interpretação da expressão “prazer” acabou de se acusar como não sendo um verdadeiro leitor. Aqueles que não só lêem como sentem aquilo que lêem conhecem apenas uma interpretação de “prazer” aliada à leitura.

Poucos hábitos são tão importantes e tão definidores da nossa personalidade e da pessoa que seremos no futuro como é a leitura. É certo que nem todas as crianças são apaixonadas por ler, contudo tal depende e muito dos pais e com força de vontade e a dose certa de insistência e criatividade tudo é possível. Incentivem as crianças a fazer da leitura o seu desporto favorito e o futuro encarregar-se-á de vos recompensar. A vocês e a eles.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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