Pior dia do ano – Miguel Bessa Soares

Ora cá estou eu de volta depois de uma curta, se calhar até demais, pausa de férias.

Regressar ao trabalho na entrada do mês de Agosto, depois de uma pausa para férias, não está com nada. E não está com nada porque Agosto é o mês da apatia geral. Parece que o mundo inteiro foi de férias e alguém se esqueceu de nos avisar. O que desaparece em vizinhos e amigos, é estranhamente compensado por uns seres que parecem Tugas, agem pior que os tugas, mas falam Francês.

O primeiro dia de trabalho depois das férias é o pior dia do ano. Sou eu que digo, mas se precisarem eu atesto que um estudo de Harvard chegou à mesma conclusão. É mentira, mas sempre dá alguma dignidade à minha modesta crónica. Neste dia nada está como devia estar. O café da manhã está fraco, e com mau sabor, parece que amanheceu mais cedo, mas já estamos atrasados. Os nossos programas de radio favoritos foram de férias. O senhor da SIC diz que vai estar um bom dia para a praia. Os sapatos não cabem nós pés, porque estão habituados a chinelos e sandálias. E a porcaria da camisa engomada está a roçar com força no nosso recém adquirido escaldão nas costas.

A única coisa que compensa este pior dia do ano, reparem como já o assumo como verdade universal, é o facto de ser Agosto, e como tal não haver transito. No entanto parece que todos os outros condutores também estão a ir para o primeiro dia de trabalho, isto é o rastilho para se gerar um clima de neura geral, o que baralha muito as leis da prioridade.

Depois chegado ao trabalho, rever as mesmas caras. As caras que querem saber como foram as férias, que nos elogiam o bronzeado, ou a modificação no cabelo, mas as mesmas caras que nos revelam os planos para as férias que se aproximam – camelos!

É no fim do pior dia do ano que percebemos que este dia parece saído do nosso governo de coligação, e acumula funções. Não só é o pior dia do ano, como é o mais longo dia do ano. As horas não passam, o ponteiro dos minutos parece estar parado, o dia é interminável. Bolas, não é que o relógio que comprei ao simpático Chinês está mesmo parado? Parece incrível, os Suíços já não têm a qualidade que tinham, o vendedor garantiu-me que o mecanismo era todo feito na Suiça. Sendo assim vou-me embora porque já passou da minha hora, e fica o aviso para toda a gente, não confiem nas tralhas que compram a desconhecidos na praia.

 

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário