Planos para um futuro melhor, ou apenas negligência? – Ricardo Espada

Nem sei como começar esta crónica. E porquê? Porque estou de tal forma chocado, que ainda tenho as mãos a tremer – o que quase me impossibilita de escrever. Neste momento, o meu nome deveria ser automaticamente alterado para Ricardo Parkinson, em vez de Ricardo Espada. Uma pessoa vai a um centro comercial, e sai de lá chocado. «Ó Ricardo, mas então o que é que te chocou dessa forma?», pergunta o caro leitor desta crónica. Se o leitor pergunta, eu respondo: «Então, o que me chocou foi uma cena que tipo… coiso…».

Acabou a brincadeira, e vamos a coisas sérias que isto de escrever a tremer, é coisa para ser uma aventura do caraças. E eu não estou muito virado para aventuras, porque a idade já não permite (A idade é sempre um óptimo bode expiatório… A desgraçada da idade nunca se pode defender…). Estava sossegado a almoçar num centro comercial quando, à minha frente, chega um casal com dois filhos que aparentavam não ter mais de 2/3 anos. Chamou-me à atenção, o facto de a mãe estar a usar um marsúpio onde levava um dos filhos. E porquê? Porque a senhora estava marreca. Estava marreca porque o filho que ela transportava era, simplesmente e assustadoramente, obeso. Não «obeso», no sentido de que bebe mais leite do que deveria, mas sim, de quem anda a comer adubo em vez de beber leitinho…

Fez-me um pouco de confusão e levou-me a pensar em várias situações para aquele cenário grotesco. Primeiro que tudo, como é que os pais deixam a criança chegar a um alarmante estado de obesidade com apenas 2 anos? Será negligência, ou será mais que isso? Para mim, aqueles pais estão a criar um pequeno mini-Hulk, com o propósito de retirar alguns rendimentos disso. Até parece que já os estou a ver a assaltar um banco e, em vez de usarem armas, optarem por levar o Mini-Hulk:

– «Boa tarde, minha senhora. Não faça grandes alaridos, mas nós queremos todo o dinheiro que tiver em caixa. Não temos pistolas, nem facas, mas estamos mentalmente preparados para deixar o nosso filho à sua custódia. Olhe para ele, é aquela criança que está junto à máquina dos chocolates.»

– «Ai, meu deus… Mas ele é muito obeso… Deve comer mais que dois Fernando Mendes juntos!»

– «Pois… Ainda bem que percebeu o que lhe espera, se não nos der o dinheirinho… Como vai ser? Está nas suas mãos…»

– «Tomem! Levem tudo! Se quiserem a minha carteira e o meu fio de ouro, estejam à vontade!»

– «Eh, lá… Também não é preciso exagerar… O dinheirinho chega muito bem… Mas pode juntar a máquina de contar as notas, que eu adoro o som que o raio da traquitana faz…»

Ou isso, ou estão a criar um filho obeso para um dia mais tarde conseguirem viver de um qualquer subsídio… Não fique tão chocado, caro leitor. Existem pais que são capazes de tudo nos dias que correm. A minha vontade, ao ver aquela situação a acontecer à minha frente, era ter levantado o rabiosque e ter ido ao encontro do casal e dizer-lhes das boas! Explicar-lhes que o filho, a continuar assim assustadoramente obeso, iria sofrer imenso no futuro – especialmente de Bullying. Mas tive de desistir porque eles estavam a almoçar, e o mini-Hulk estava já no segundo saco de fertilizante para relva. Diz que é de muito má educação interromper alguém quando se está a almoçar. Diz que pode causar uma paragem de digestão. Claro que eu posso estar redondamente enganado, e eles estão apenas a criar um pequeno lutador de sumo. We’ll never know

Adeusinho, e voltem lá para a praia… Eu volto para a semana, se me aprouver. Porque, se não me aprouver, então nada feito. Considerem-se avisados…


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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