Pobre, mas feliz e contente – Nuno Araújo

Este primeiro-ministro Passos Coelho não serve para nada. Vai ao conselho europeu, verifica que a UE reduz o orçamento total comunitário, e ainda são reduzidas as verbas destinadas a Portugal. Porque motivo Passos Coelho não poupou umas dezenas de euros em viagens a Bruxelas? É que não foi lá fazer mesmo nada com jeito…

Decisões do Conselho Europeu

Os 27 países da UE, que excluem a Croácia para já das reuniões magnas europeias, decidiram reunir para decidir acerca do orçamento comunitário para 2014-2020. Os 27 decidiram mesmo cortar mais do que aquilo que fora avançado pelos media europeus, nos últimos meses.

O orçamento comunitário deverá superar ligeiramente o bilião de euros, e cortar, face ao anterior “budget”, mais de 93 mil milhões de euros.

David Cameron, “la Bête noire” da UE, foi o “grande timoneiro” (outra vez uma referência à China) desses cortes que vêm acrescentar austeridade à austeridade. É caso para dizer, “assim não, sra. UE”.

Portugal, por exemplo, passará a receber menos 9,7% do que no actual orçamento, menos 3 mil milhões de euros, no período de 2014 a 2020, o que perfaz quase 28 mil milhões de euros, mas poderá ser compensado com cheques extra (como o de 1000 milhões de euros que já foi notificado para receber), para o que terá de se “candidatar” junto das agências europeias, por forma a garantir financiamentos para projectos estruturantes ou de âmbito social.

A agricultura portuguesa também perderá fundos, ficando-se em 500 milhões de euros o montante disponível. De resto, Portugal perde dinheiro em toda a linha. O Mecanismo Interligar a Europa (MIE) também perderá quase 40 por cento das verbas comunitárias destinadas a projectos ferroviários, onde está incluído um eventual projecto de ligação Portugal-Espanha.

Apesar de não saber com exactidão os valores finais da proposta, a mesma poderá ser chumbada em Parlamento Europeu (PE). O presidente do PE, o alemão Martin Shultz, já afirmou que não poderá passar uma proposta que contemple redução de verbas e que até possa gerar défice, assumindo como errada a linha de austeridade seguida pelas autoridades europeias. Valha-nos a sensatez de Schultz em todo este processo negocial, quanto ao orçamento comunitário, pois outras vozes parecem não conseguir sair do “quadrado” em que meteram a UE.

Porém, temos um primeiro-ministro “feliz e contente”. Esse primeiro-ministro é Passos Coelho, e Portugal e a UE saiem a perder com este orçamento deplorável. Alguém me pode explicar o porquê de tanta satisfação?

A “Besta” da Corrupção

A 10 de Fevereiro, a China e outros países asiáticos comemoraram um novo ano chinês. Foram dadas as boas vindas ao ano da Serpente, o ano de 4711. Desde Domingo, e até 25 de Fevereiro, diversas festividades terão lugar, desde a visita a vários familiares, orações a Tian Gong (Deus do Céu), ou mesmo o festival das lanternas, que encerra a quinzena festivaleira chinesa.

A “besta gigante”, Nian de seu nome, que deu lugar à lenda que impulsionou o festejo do ano novo chinês, poder-se-ia chamar Corrupção. Este é, efectivamente, o maior problema entre mãos para Xi Jinping resolver, ele que é o recém-empossado líder do Partido Comunista Chinês (PCC) e da República Popular da China. Entre diversos escândalos financeiros, políticos ou até de índole privada, o PCC virou-se para “dentro”, na tentativa de garantir alguma credibilidade interna (que já vai escasseando aos olhos da opinião pública chinesa) e afastar dirigentes vários implicados em casos mediáticos de corrupção activa e passiva. E, nessa senda, Xi Jinping afirmou, numa recente reunião com o comité central do PCC que “o partido deveria aceitar críticas de não-membros do PCC”. Há, no entanto, uma polémica em plataformas online asiáticas que comparam essas palavras do líder chinês ao que Mao Zedong fez, em 1956, na campanha das “Cem Flores”, em que incentivou os críticos a opinarem contra o PCC, e o que se seguiu foi uma violenta purga que afectou meio milhão de pessoas.


Ainda sobre a “besta gigante”, será ela Corrupção ou Capitalismo? É mais do que sabido que a China está bastante atenta ao que se passa na UE. O Euro é, nestes dias em que escrevo, uma moeda mais solidificada e mais apoiada pela Alemanha, mas mais alvo de ataque especulativo propositado por parte da França. Aliás, Hollande e seus ministros, como Moscovici, prosseguem nas intentas estratégicas contra a divisa europeia, para que esta sofra uma desvalorização, a qual seria inédita pois o Euro não pode ser, de momento, alterado quanto ao seu valor de referência, nem por parte do BCE. Para que isso ocorresse, os tratados europeus teriam de ser profundamente revistos, ou então a vontade dos líderes europeus teria de ser unânime, o que pode não ser fácil, tendo em conta nacionalismos irracionais, como o húngaro ou mesmo o britânico.

Se o Euro algum dia viesse a ser desvalorizado, tal como a China faz de tempos a tempos com o seu Yuan de Renminbi, a China perderia biliões de dólares, e toda a lógica de trocas comerciais mudaria, mesmo no mundo inteiro. A UE seria um “player” muito mais ágil e eficiente na teia das trocas comerciais mundiais; no entanto, esse dia poderá tardar em chegar, e a UE teima em adiar sucessivamente a cimeira decisiva, a mais esperada de todas: um plano comum e sustentado de crescimento para a UE. Cá esperamos por esse plano…sentados, como é claro…

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana