“Portugal a arder, Espanha em brasa, Grécia a ferro e fogo” – Nuno Araújo

1. Os subsídios: e agora?

Esta semana que passou ficou marcada por diversos acontecimentos, sendo que alguns desses foram “fait-divers” cirurgicamente escolhidos para desviar as atenções das pessoas do essencial da política nacional, no entanto a maioria das pessoas prefere jantar com sossego em casa ou à beira-mar, aproveitando o convívio com amigos e familiares. O Verão está quente, e, com efeito, preparam-se mais cortes na despesa nas áreas da saúde e as educação, para que o Governo consiga amealhar o mesmo montante previsto com a retenção na fonte dos subsídios de férias e de natal dos funcionários públicos.

Abebe Selassie, chefe da missão da Troika em Portugal, já deixou implícita a intenção de que o caminho para que Portugal consiga crescer economicamente é o de cortar na despesa e não aumentar impostos (só se for o IVA dos seis por cento, por forma a que colmate a perda de milhões da baixa da Taxa Social Única). Ora, se reter na fonte subsídios é equivalente a um imposto, logo aposto que todos os portugueses que auferirem rendimentos em 2013 terão os seus subsídios por inteiro nas suas contas bancárias.

2. Sobre os incêndios florestais

Com o calor a apertar, este mês de Julho é já um dos meses em que mais incêndios florestais se contam em muitos anos. O flagelo que assolou toda a Madeira e o pânico vivido igualmente em terras algarvias ocorreu num período com condições climatéricas muito específicas. Mas Espanha também sofreu com os fogos que lavraram na cidade insular de Tenerife. A Grécia…tudo lhes acontece, aos cidadãos gregos, com incêndios violentíssimos que ameaçaram cidades vizinhas da capital Atenas.

Diga-se, imagino eu, que muitos desses fogos florestais não serão apenas fruto do descuido de pessoas que deitam beatas acesas de cigarros para o chão, ou de pirómanos; tratar-se-à, muitas outras vezes, antes de pessoas que, munidas de tochas por exemplo, ateiam fogos apenas para que  proprietários de terrenos com madeira queimada a possam vender substancialmente mais barata (às empresas que trabalham com essa matéria-prima), ou até que detentores de empresas de aluguer de meios aéreos consigam fazer negócio com esse verdadeiro flagelo que são os incêndios florestais, para além de outros motivos de negócio que eventualmente existem e que parecem justificar a actividade criminosa nesta matéria.

Devo referir que Miguel Macedo, o actual ministro da Administração Interna, tem gerido muito mal esta série de fogos florestais, como se viu no caso da Madeira (acção tardia em enviar mais meios para o arquipélago) e na situação algarvia (descoordenação dos meios de combate às chamas). Em anos anteriores (2009 a 2011) o governo PS, com o então ministro Rui Pereira e seus secretários de estado, mostrou estar indubitavelmente melhor apetrechado para lidar com crises desta envergadura do que o actual executivo do PSD-CDS.

3. Espanha: a região de Valência é a primeira carta a cair

Esta Sexta-feira que passou foi especialmente negra para a bolsa de Madrid, que fechou a perder inacreditáveis 6 pontos percentuais. Na verdade, tudo se explica pelo pedido de ajuda que a tecnicamente falida região de Valência fez ao executivo central espanhol, liderado por Mariano Rajoy. Este senhor, que em campanha eleitoral prometeu baixar impostos, e que depois de ganhar as suas eleições e de o seu partido PP vencer as regionais de Março deste ano, disse toda a verdade, ou a conveniente: o governo espanhol vai aumentar (e de que maneira) os impostos. Espanha mostra que é liderada por um governo que nada mais é do que um castelo de cartas, e que está prestes a desmoronar-se.

É uma questão de tempo, minhas senhoras e meus senhores.

4. Guiné Equatorial na CPLP?

Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)? Este é mesmo um caso para muitos de nós perguntarmos: mas porquê?

A Guiné Equatorial é um país que fica situado em África, fazendo fronteira com paises como Camarões e Gabão, tendo, porém, as ilhas de São Tomé e Príncipe próximas das suas águas territoriais, pois esta Guiné também possui três regiões insulares.

Na Guiné Equatorial não se fala português, mas lá a língua de Camões é língua oficial, tal como o Castelhano e o francês. Fala-se fang e pidgin inglês. Espreitando o site oficial, observa-se que a língua escolhida é o castelhano, e se se quiser ler noutra língua as informações lá contidas não temos sequer opção de escolher o português – que é língua oficial desse país.

Mas o petróleo fala mais alto do que qualquer língua. E o líder equatorial Obiang consegue mostrar que o seu país é um bom lugar para se fazer negócio. Mas não consegue esconder as constantes violações dos direitos humanos que infringe aos seus compatriotas. E assim deseja que a CPLP seja uma comunidade que legitime práticas que não se coadunam com democracia plena.

A Guiné Equatorial é o 172º país do mundo, no combate à corrupção (segundo a Transparency Internacional ). Lá, 70 por cento dos habitantes não têm sequer 1,50 € por dia, enquanto que os líderes políticos locais enriquecem dinheiro que deveria canalizado para bem dos cidadãos equatoriais.

Obiang reelegeu-se com 95,4 por cento dos votos nas últimas eleições em 2009. O líder equatorial desde o golpe de estado de 1978 recusa em absoluto o fim da pena de morte, assim como a legitimidade do Tribunal Penal Internacional.

Por tudo isto, a Guiné Equatorial viu recusado o pedido de adesão à CPLP. Não por ter feito poucos esforços para dinamizar o ensino do português no seu território, mas porque persiste em todas violações de direitos humanos acima citadas. A diplomacia portuguesa está de parabéns, até porque haviam diplomatas de outros países da comunidade lusófona favoráveis à adesão deste regime repressivo à CPLP.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana