Previsões são só previsões? – João Cerveira

Era impossível hoje, depois da conferência de imprensa de ontem do nosso Ministro das Finanças, não falar deste assunto.

Somos instados, no nosso dia à dia, a programar – ou se quiserem, prever – o nosso dia, a nossa semana, até o nosso ano, por força das restrições que o Governo nos impõe com tanta austeridade. Fazem-nos crer que estamos a fazer o imprescindível para equilibrar as contas do Estado e retomar o crescimento (e que temos de aguentar) mas o que se assiste é precisamente o contrário. Há mais divida, há mais défice, há mais desemprego. Só há menos dinheiro nos bolsos dos cidadãos. E todos sabemos – e eu escrevi isso mesmo há algumas semanas atrás – menos dinheiro disponível retrai o consumo, que reduz lucro das empresas (ou transforma em prejuízo), que reduzem funcionários ou fecham, que origina mais desemprego, que, por fim, aumenta despesa do Estado com subsidio de desemprego.

Se um empresário investe mas corre mal porque não previu bem todos os factores relacionados com o mesmo, perde dinheiro e, provavelmente, o negócio. Se um agricultor investe numa nova plantação fora de tempo, perde o investimento e, possivelmente, a plantação porque não previu o melhor momento para a iniciar. Então e se um Ministro das Finanças não acerta uma única previsão – friso, não acerta uma única previsão – todos os contribuintes têm de aguentar as consequências da sua falha, da sua incompetência?

E “previsões são só previsões”, senhor Primeiro Ministro? Ainda ninguém se esqueceu de como criticou o anterior Governo pelas suas previsões e agora desvaloriza as do seu Ministro das Finanças? Mais: ninguém se esquece das criticas que lançou ao Governo anterior por pôr as culpas do estado da Economia a factores exteriores. Mas neste momento, o seu Governo faz o mesmo, enquanto que a Troika diz que só o Governo português é culpado. Em que ficamos?

Tenham vergonha. Se não o sabem fazer, deixem para outros que saibam, seja de que partido forem. Mais do mesmo, não obrigado.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…