Quem vos desperta vosso amigo é! – Bruno Neves

Por mais pontuais que sejamos há sempre um dia em que nos atrasamos. Já todos passámos por isso, nem que seja uma vez. Um despertador que não toca (ou porque não lhe apeteceu ou porque nos esquecemos de o colocar a despertar) uma noitada que nos levou a deitar mais tarde ou simplesmente porque naquela manhã a cama estava demasiado quente para a largar tão cedo.

Obviamente que se gostar de fazer noitadas ou, por oposição, se gostar de dormir existe uma maior probabilidade de adormecer. Mas mais do que dissertar sobre o porquê de termos adormecido eu vou debruçar-me sobre os momentos posteriores, ou seja, sobre tudo o que se segue ao acordar.

Primeiro, ao acordarmos e olharmos para o relógio ficamos com a sensação de que ainda estamos a dormir e de que tudo aquilo só pode ser um pesadelo. “É impossível ser tão tarde! Como é que eu adormeci? Logo hoje que tenho tanto para fazer e não me posso atrasar!” (Sim, porque estes infortúnios apenas acontecem naqueles dias em que não nos dava jeito nenhum, não é? Como quem diz: “Logo hoje? Não podia ser amanhã? É que hoje não me dá mesmo jeito nenhum!”)

Depois de esfregarmos os olhos e nos beliscarmos acabamos por constatar que não se trata de um pesadelo e de que adormecemos mesmo. É então tempo de rapidamente proceder uma análise dos estragos: pensar no tempo que perdemos e no que temos que fazer antes de sair de casa, assim como em que medida aquele infortúnio nos vai afectar durante todo o dia. Posto isto, constatamos que passaram mais cinco minutos e que ainda nem sequer nos levantámos da cama.


É então tempo de levantar e de correr! Correr para tentar fazer o maior número de tarefas ao mesmo tempo sem descurar nenhuma. E como é que diz o ditado? Exactamente: “Depressa e bem não há quem!” Logo está mais que visto o resultado não está? Vamos cometer erros até nas mais pequenas e insignificantes tarefas, que vão agora parecer literalmente titânicas! É como se a vida real fosse um jogo e o nível de dificuldade tivesse passado instantaneamente para o máximo possível, sem passar pelo intermédio.

Acabamos por constatar que afinal é possível fazer as habituais tarefas diárias muito mais depressa do que aquilo que pensávamos. Surpreendentemente o tempo literalmente voa quando estamos atrasados. É como se o tempo percebesse a situação e pensasse: “Ah estás atrasado? Mas soube-te bem ficar deitado não soube? Pois, pois, não tiveste culpa, eu sei. É sempre a mesma história. Agora não corras e vais ver o que te acontece!”

Invariavelmente alguma coisa vai ficar para trás. Em dia em que estamos atrasados é impossível fazermos tudo o que era suposto e levarmos connosco tudo o que era suposto. Sim, porque nesses dias ou fica em casa o telemóvel. Ou os óculos. Ou o leitor de mp3. É como se fosse mais um castigo por não termos obedecido ao despertador. É nestes dias que os sinais estão sempre vermelhos, que apanhamos um trânsito caótico, que estacionamos mal o carro ou excedemos a velocidade normal e apanhamos uma multa. Nestes dias tudo corre mal.

Juramos para nós mesmos que aquilo nunca se vai voltar a repetir.
Mas o que é certo é que existe sempre uma próxima vez.

Boa semana. Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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