Recordar é Viver – Bruno Neves

Recordar é viver. E desenganem-se aqueles que pensam que vamos falar do Vítor Espadinha nesta crónica. Não que ele não esteja à altura porque é merecidamente um dos melhores actores que este país já conheceu. Actor e cantor, um dos maiores da sua época inclusivamente. Mas o tema desta semana é algo mais profundo, é sobre recordações. É sobre o passado. E sobre o presente também. Tudo isto sem nunca perder de vista o futuro, obviamente.

Muito recentemente tive um serão em que a família (ou parte dela, pelo menos) visionou vídeos do nosso passado. Cassetes ainda em VHS (aposto que os mais jovens nunca viram sequer uma, não é pequenitos? Vão ao Google pesquisar sobre isso, mas só depois de lerem o resto da crónica, claro está) que encerram em si mesmas uma parte fundamental de todos nós: a memória do passado.

Vi filmagens que não via há muito tempo. Vi-me em pequeno, loiro e com caracóis. Vi e ouvi as barbaridades que uma criança consegue dizer. Revi pessoas que infelizmente já não estão entre nós e de quem tenho muitas saudades. Ri e chorei. Porque a vida é assim mesmo: um constante turbilhão de momentos e sentimentos, de coisas boas e más. Devemos aprender com as más para sabermos disfrutar das boas.

Quem somos nós hoje se não um acumular de memórias e experiências? Se esquecermos o passado, aquilo que fomos e como pensávamos, o que resta? Um corpo. Porque a alma estará perdida para sempre.

É certo que nem todos olham para o passado da mesma forma e que nem todos temos bons motivos para olhar para o dia de ontem. Mas só podemos crescer e dar os passos certos rumo a um futuro melhor quando olharmos para o passado, reflectirmos e aprendermos com ele, para que amanhã não cometamos os mesmos erros.

E agora estão vocês a pensar: “Se eu pudesse voltar atrás no tempo mudaria muita coisa, não teria cometido aqueles erros.” Pois eu digo-vos exactamente o oposto. Se eu pudesse regressar ao passado e reviver tudo de novo, não mudava nada. Ou melhor, mudava muito pouco. Mas cometeria os mesmos erros. Sabem porquê? Porque aquilo que eu sou hoje devo-o a isso, aos erros que cometi, e ao que aprendi com eles. Se mudasse a história, não cometeria aqueles erros mas certamente que cometeria outros, porque sou humano. E ao cometer novos erros, teria novas lições de vida. Seria alguém, mas seria quem sou hoje? Seria melhor do que aquilo que sou agora? Estas são perguntas que invariavelmente vão ficar sem resposta. Vocês não sei, mas eu não estaria disposto a arriscar.

Mas digo-vos o que faria sem sombra de dúvida: ia aproveitar o momento. Viver tudo intensamente. Estar com aqueles que mais amo e que mais significam para mim. Porque andamos toda uma vida em busca de algo que não possuímos. Quando somos crianças, queremos ser adultos e independentes. Aquando a chegada à vida adulta queremos regressar à infância porque percebemos que a vida não é como nos contos de fadas. Não tardará muito para a ambicionarmos chegar à reforma para finalmente podermos descansar. E quando paramos para pensar e olhamos para trás percebemos que passou uma vida inteira e queremos fazer tudo de novo.

Não percam tempo a pensar como será o futuro, simplesmente vivam o presente e dêem o vosso melhor. É assim que se constrói o futuro.

Como diz a canção interpretada pelo Vítor Espadinha: “Fui louco? Não sei, talvez! Mas por pouco, muito pouco eu voltaria a ser louco e amar-te-ia outra vez.”

Vivam o presente, sempre com o passado na memória, e com o futuro no horizonte.

Boa semana, boas leituras.


Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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