Regresso ao passado? Hummm… – Mara Tomé

Não, obrigada.

Depois de muitos anos de ausência, sem notícias de colegas de faculdade (o que muito agradeci – sem ironias), eles vão aparecendo aos poucos… basicamente, noto que muitos deles haven’t changed a single bit… Por cá, em terras lusas, não existe muito essa tradição (ou se existe, eu não sou convidada, o que, mais uma vez, muito agradeci e agradeço – sem ironias): reunir com todos os colegas de curso ao fim de 10 ou 15 anos. Que horror. Visualizo essa reunião e noto que:

– a cabra de serviço continua cabra de serviço, a armar-se para toda a gente, mesmo que virada do avesso não valha um cêntimo;

– o mulherengo, de quem se dizia ter uma lista actualizada de todas as fulanas com quem andara, continua mulherengo, embora casado com uma rapariga de aspecto altamente duvidoso, tipo saída de vitrine de Amesterdão. Ah, ele até pode viver lá, quem sabe…

– o sr não-quero-compromissos continua o sr não-quero-compromissos, o que se traduz por “sozinho que nem um cão” e com mentalidade ainda mais infantil que a que tinha na altura do curso;

– o viajado continua viajado;

– o freakazóide continua difícil de definir. Mantém-se freakazóide, embora mais crescido e com mais maturidade;

– a mandona que, na altura já tinha lata mas agora tem um armazém delas, está mil vezes pior e até arrasta consigo uma ou duas carraças, para poder mostrar a sua superioridade. Também pode levar o marido e, assim mostra também que, lá em casa, alguém manda;

– a tímida e certinha continua tímida e certinha, apesar de já poder ter um relacionamento ou ter constituído família, e não querer confusões;

– os que não tiveram emprego/trabalho voltam à faculdade e acabam por reviver tudo com uma emoção desenfreada (sempre com uma ou duas garrafas na mão e uma grade de cervejas às costas);

– os/as bons/bonnes vivants/vivantes assim continuam, na boínha, pois contas há alguém que as pague e no viajar é que está o máximo. Relacionamentos sim, compromissos não;

– finalmente, as surpresas: os que atinam e decidem constituir família e são felizes, mesmo que o ordenado deixe a desejar; os que casam e gostam de estar casados e arriscam ter filhos e são felizes; os que conseguem realização profissional na área sem cunhas e com muitos sacríficios, os que aceitam que já não têm 18 anos e estão agora muito perto dos 35 ou 40 anos e decidem agir como tal, ou seja, com a maturidade e respeito que a idade ensina.

Já revi o que tinha a rever destes anos de ausência. Presenças físicas, não obrigada. Até porque, da faculdade, só tenho algumas recordações excelentes, que mereçam ser recordadas:

– ter conhecido o meu marido;

– ter tido uma madrinha de curso que é uma amiga fantástica;

– a gravidez inesperada de uma amiga e todas as peripécias que se lhe seguiram;

– as viagens de transportes públicos;

– manter contacto com alguns professores fantásticos;

– alguns conhecimentos adquiridos;

– canções da Estudantina e momentos bem passados em algumas baldas às aulas mais chatas.

Tudo o resto, dispenso. Como sempre dispensei. Sempre fui muito independente e não pretendo mudar isso agora. Quem é, de facto importante para mim,  manteve-se por perto desde então (mesmo que a distância implique outros fusos horários). Cada fase é uma fase e aquela, para mim, já terminou. A minha prioridade é a família: duas piolhas que são o meu maior orgulho e um marido fantástico. Não os largaria, nem por 10 minutos, para um “jantar” de antigos colegas.

Crónica de Mara Tomé
T2 para 4