Review: KIKO Cosmetics – Carla Vieira

Quando era pequena – adolescente mais ou menos – tinha uma tendência descomunal para não gostar de qualquer tipo de maquilhagem. Isto provavelmente veio da ideia que eu tinha que a maquilhagem servia para alterar a percepção que as pessoas têm de uma certa pessoa, o que é bem verdade. Mas sendo bem verdade, não quer dizer que eu tenha tido uma atitude correcta ao enxovalhar estes produtos.

Verdade seja dita, a nossa própria percepção do objectivo da maquilhagem é o ponto de partida para a nossa opinião sobre a maquilhagem em geral. Quem acha que a maquilhagem serve para virar uma pessoa em 180 graus, se calhar não gosta de a usar. Quem acha que serve para eliminar ou disfarçar o que tem de mal no rosto, provavelmente abusará. Quem acha, pelo contrário, que a maquilhagem serve para mostrar o que o nosso rosto tem de bom, assim sim, gostará de usar maquilhagem, mas sempre na medida certa.

Desenganem-se as mulheres que acham que a maquilhagem é o portal para um homem vos achar bonita e querer estar convosco. Não é. Lamento. Se um homem não vos achar apelativa, não são vestidos, calções, bikinis, ou camiões cheios de maquilhagem que vos vão ajudar. Passem à frente deste estigma e continuem a ler.

A maquilhagem, obviamente, serve para muita coisa dependendo de quem a usa. Para alguns significa dramatismo, para outros é um chamariz, para outros ainda é uma chatice que “tem de ser” porque a empresa onde trabalham manda que assim seja. O que deve ser concordado por todos é que a maquilhagem, se a usarem, deve ser de boa qualidade. O problema disto da qualidade é que geralmente tem um preço… Um grande, altamente dispendioso preço.

Não é de admirar portanto que a busca por produtos de alguma qualidade (alguma) a um preço relativamente aceitável seja enorme. A aparente solução a este problema é a KIKO, ali em Santa Catarina. Montes de produtos de maquilhagem em variadíssimas cores, de alta qualidade, quase tudo a menos de cinco euros?! Oh meu deus! Brilhante, era mesmo isto que eu queria!

Sarcasmo.

Vá, realmente é isto que nós queremos. Não o vou negar. Já lá fui montes de vezes e sempre saí com este ou aquele produto, porque os preços são mesmo, mesmo baixos. O problema, meus caros, é a qualidade… Ou a falta dela. Isto, devo dizer, é uma opinião pessoal, nada mais do que isso. Se vocês acham que a loja tem a qualidade que vocês pretendem, então continuem a lá ir, porque realmente tem tudo aquilo que uma mulher pode querer.

Lá está, excepto homens.

Eu adquiri um desgosto enorme pela loja. E vou-vos dizer porquê.

Das primeiras vezes que lá fui, comprei um eyeliner preto. Muito simples, uma ponta fina e dura que criava uma boa linha no olho. À primeira vista estava tudo bem. O produto durava horas. Horas! Durava tanto que para o tirar eu precisava de dez minutos e esfregar algodão nos olhos com removedor de maquilhagem e ainda assim era difícil tirá-lo todo. Era tão bom que obviamente quando acabou fui comprar outro igual, achando que como era bom, merecia uma segunda compra.

Oh o quanto me enganei. É exactamente igual ao meu primeiro, mas dura meia hora e depois desaparece. Nem traços mais longos e grossos sobrevivem. O esquema aqui seria, sei lá, fazerem os eyeliners exactamente iguais, mas em vez disso a qualidade escorreu por ali abaixo tal como o próprio eyeliner, do qual nem ver porque à hora do lanche já não tenho nada nos olhos.

Mas eu sou teimosa. Sou teimosa e pensei “não, isto é coisa de uma vez, vamos lá experimentar” e comprei dois vernizes para as unhas de cores super queridas, um lavanda amoroso e um laranja de edição limitada. Pintei as unhas a primeira vez com esses vernizes, por isso acreditem que nunca mais me esqueci da maneira como as minhas unhas lascaram todas – todas! – em menos de uma semana, com o verniz ainda lá enfiado. O que fiz a seguir foi comprar vernizes Andreia e esparramá-los nas unhas a ver se aguentavam, e obviamente ler os “ingredientes” de ambas as marcas de vernizes. Não sei como é que os vernizes Andreia levam meia dúzia de coisas e os da KIKO precisam de duas páginas inteiras, mas se isso não me tirou as dúvidas, o facto de as minhas unhas estarem intactas depois de usar os vernizes Andreia tirou, de facto, todas as dúvidas que eu poderia alguma vez ter.

Fui à loja mais uma vez. Sim, eu sei, isto já é de bater com a cabeça na parede. Mas eu queria mesmo desculpar a loja! Com preços tão bons, claro que tinha de lá voltar e comprar outro produto que me desse esperanças. Desta feita foi um lápis para os lábios e um batom. Separadamente, mas pronto. Já usei o lápis umas quantas de vezes, porque não tenho mais nenhum, mas é uma daquelas torturas que meu deus salva-me que eu não aguento mais isto.

Em defesa do produto, este dura até eu enfiar comida na boca. Isto nada diz, porque os lápis supostamente são bases para o batom, e por isso enquanto o batom desaparece, o lápis deveria aguentar, mas enfim. Eu suportaria tudo isso e mais alguma coisa, não fosse o sabor a lápis de cor que me fica na boca. De cor ou de cera, já nem sei. Eu era daquelas crianças que enfiava os materiais de arte todos na boca por isso vou lá distinguir qual deles é… Mas que sabe mal para o raio sabe.

O batom? Ainda não o experimentei, mas senhoras, não tenho grandes esperanças para ele. Cá para mim devia levá-lo a um padre e benzê-lo só por causa das coisas. Esta loja me parece a modos que amaldiçoada.

A única coisa que tenho a dizer, é que às vezes realmente é muito melhor comprar um bocadinho mais caro, se se tiver a certeza que a qualidade é alta. Preços baixos por produtos de má qualidade? Não me parece. Esta marca devia ter vergonha na cara.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente