Rise above – Laura Paiva

Não sou, nem nunca fui fã ou seguidora de telenovelas.
Não acredito nas histórias, ora muito coloridas, ora muito negras. Não consigo conceber, e até me custa a acreditar, que possa existir gente tão má como o são os vilões dessas histórias. É certo que, no final, acabam sempre tramados e nos deixam com o doce sabor da vingança, mas na minha mente (inocente, eu sei) não há gente assim.

As excepções ocorreram quando eu era ainda criança – Gabriela (versão original de 1977) por ter sido a primeira telenovela brasileira transmitida na nossa televisão e, mais tarde, a produção nacional Vila Faia (versão original de 1982) que muita lágrima fez verter quando a Mariette morreu.

As séries Dallas – com o vilão mais vilão de todos os tempos: J.R. Ewing (RIP Larry Hagman),  Espaço 1999 ,que por razões óbvias me fazia sempre verificar se havia algum monstro debaixo da cama,  e o filme português  O lugar do morto (1982) com uma cena ousadíssima para a época – aquela em que a Ana  Zanatti protagoniza uma cena erótica em cima de um carro (diziam as más línguas que ela manteve, o tempo todo, os collants)  também marcaram a minha infância.

Hoje, não tenho nem pachorra nem tempo para ver telenovelas, com um enredo sem fim de conspirações maquiavélicas.

Para isso, já me basta o dia-a-dia que tem um guião de autor desconhecido, é realizado sei lá eu por quem, com personagens escolhidas num casting duvidoso e no qual eu não tenho, por vezes, controle.

O maior problema são mesmos os actores secundários – entram a meio do filme, julgam-se reis e senhores da história, tentam reescrever o guião, infernizar a vida de quem faz parte da versão original, menosprezar quem não lhes dá qualquer valor e consumir a energia de quem os rodeia!
E não há modo de os despedir – o seu contrato foi redigido com uma cláusula específica que lhes dá total cobertura e liberdade de acção.

Todos nós, em dado momento do nosso filme, nos deparamos com, no mínimo, um destes actores secundários.

Recentemente entrou um destes actores secundários no meu (nosso) filme.
Qualquer vilão é, comparativamente, um amador de muito fraca qualidade.

Resta-me uma solução – rise above!
Espero conseguir, tenho de conseguir, hei-de conseguir… Como alguém me disse “o que vem de baixo não nos afecta”.

(Rise above neste contexto deverá ser traduzido por “ser superior”)

Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos