Santa Summer Sounds: um exemplo de empreendedorismo em Portugal – Bruno Neves

Os sete pecados capitais são universais, contudo eu tenho para mim que em Portugal existe um oitavo. A juntar à gula, à avareza, à preguiça, à vaidade, à ira, à luxúria e à soberba existe o “empreender”. Parece uma piada, mas acreditem que este é um assunto muito sério.

Tendo em conta a situação financeira e económica em que o nosso país se encontra o empreendedorismo deveria ser uma prática comum e, mais do que isso, deveria de ser incentivada, certo? Infelizmente não. Que estamos num beco sem saída já nós sabemos, não precisamos dos afamados “profetas da desgraça” ao virar de cada esquina (os becos podem ter esquinas, ok? Vá, não comecem já a implicar!).

De quando em vez lá vão aparecendo alguns exemplos que fazem renascer a nossa esperança. Eu tive a minha “prova” há muito pouco tempo. Antes de vos relatar o meu exemplo respondam-me só a uma pequena pergunta: quantos festivais de verão existem em Portugal? Mais do que muitos não é? E se estamos em crise e já existem inúmeros festivais de verão não faz sentido criar mais um, certo? Enquanto muitos dirão um convicto “Certo! Não faz sentido criar mais um festival de verão em Portugal!” outros (como eu) dirão “Olha, nem é uma má ideia. Vamos lá pensar bem nisto e avaliar as probabilidades de sucesso desta ideia!”.

É precisamente no segundo grupo que se enquadraram um grupo de jovens que frequentam o ensino secundário. Há precisamente um ano atrás alguém bem próximo de mim disse-me “para o ano eu, em conjunto com uns amigos meus, vou organizar um Festival de Verão”. Obviamente que eu tive a mesma reacção que todos vocês: achei graça à ideia e pensei num tom irónico “sim, claro que vais”. Mas o tempo encarregou-se de provar que subestimei a garra e a força de vontade desse grupo de jovens.

O tempo foi passando e eles foram avançando na preparação do evento: fizeram os contactos necessários com a Câmara Municipal do concelho em causa, encontraram local, bandas, patrocínios assim como mais uma parafernália de aspectos de que era necessário tratar. E contra todas as expectativas o evento começou a compor-se.

Apareceram inúmeras dificuldades e imprevistos, nomeadamente custos que não estavam no plano financeiro inicial. Mas isso nunca os fez desistir, aliás muito pelo contrário: deu-lhes ainda mais força e coragem para enfrentar esta autêntica guerra. Batalha após batalha eles foram vencendo, e vencendo, e vencendo.

Este fim-de-semana teve lugar este evento. Deu pelo nome de Santa Summer Sounds e realizou-se em Santa Cruz, Torres Vedras. Foi a primeira vez que um festival de verão foi organizado por alunos do ensino secundário. E foi também o festival mais barato de todo o país: 15€ por um passe de dois dias, ainda com direito a uma Welcome Party na noite anterior.

Todos lhes diziam que seria impossível organizar um evento daquela dimensão. Inicialmente ninguém acreditou neles (até eu tive as minhas dúvidas, confesso, e esta é a minha redenção). Contudo, eles provaram que com garra, esforço, dedicação e acima de tudo amor à camisola tudo, mas mesmo tudo é possível.

É uma autêntica honra ter feito parte deste projecto. Fui responsável por apenas 0,000001% do trabalho, mas o que fiz foi com todo o esforço e dedicação. Talvez só daqui a muitos anos é que vocês vão ter a real noção daquilo que conquistaram, dos obstáculos que ultrapassaram e da grandeza do evento que ergueram. Para o ano podem voltar a contar com a minha colaboração!

Rapazes e raparigas, estão de parabéns pelo evento que criaram mas também pelo belo exemplo que deram para toda uma sociedade. Não esqueçam nunca esta lição, pois ela ser-vos-à útil na vossa vida futura. Em tempos tão cinzentos é bom ter um dia de céu azul sem nuvens para variar. Para o ano quero-vos a todos no Santa Summer Sounds, ouviram?

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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