Situação política portuguesa – Nuno Araújo

Mesmo sem Relvas, o governo prova, a cada dia que passa, que terá mesmo que se demitir. Isto, principalmente, porque o país não se demite de procurar uma saída para a crise. O problema do país é o governo que tem e as políticas neoliberais insistentes em austeridade sem limites, as quais não têm nem terão a conivência do PS nem da restante esquerda, pois a austeridade é exactamente o caminho a evitar por qualquer país europeu que não pretenda estagnação ou recessão económica.

A loucura do governo de Passos Coelho ainda não fica por aqui. Paulo Portas já se vai distanciando do PSD, por meros motivos eleitoralistas (“cheira” a eleições, e não são só as autárquicas…). Cerca de 800 milhões de euros de despesa do estado foram cortados, mas as nomeações de assessores para os ministérios não cessam; e para esta semana, teremos o início das conclusões ministeriais quanto ao corte de 4 mil milhões de euros na despesa do estado, que irão decerto influenciar a forma como o estado social está organizado em Portugal, querendo isto dizer que os cortes serão mesmo estruturais e poderão criar ainda mais pobreza nos já pobres e, assim, o nosso país terá uma tarefa cada vez mais árdua para sair de cabeça erguida desta crise. Onde é que falta cortar? Na saúde? Na educação, querem ver? Na segurança social? Na administração interna?

À medida que as bolsas mundiais, PSI 20 incluído, crescem, e o preço dos combustíveis descem, assim como o valor da inflação é dos mais baixos da UE, o país definha; o governo não tem estratégia para fazer a economia nacional crescer, estando à espera, como está toda a UE infelizmente, das eleições legislativas na Alemanha, em Novembro deste ano. Aí, se Merkel ganha, o Euro poderá mesmo acabar, isto para o seu poder não se diluir e dispersar na ala eurocéptica da sua família política; se Peer Steinbruck, do SPD, vencer as eleições, teremos um plano europeu para o crescimento elaborado “a meias” com François Hollande, e o BCE a “imprimir dinheiro” algo cada vez mais pedido nas bolsas europeias, o que só poderia ocorrer com alteração do Tratado de Lisboa, que aborda o papel do BCE, o qual ainda não pode desvalorizar o Euro. Mas devia.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana