Tipologia da Apreciação de Mulheres – Amílcar Monteiro

Não é novidade para ninguém que, quando um grupo composto apenas por homens heterossexuais se reúne, um dos principais passatempos é a apreciação de mulheres.  A questão é que, no âmbito desta actividade grupal que consiste na observação e emissão de comentários sobre mulheres, nem todos os homens são iguais. Deste modo, e após um estudo sociológico que tenho vindo a realizar há quase três décadas, consegui finalmente categorizar os tipos de homem no que concerne a apreciação de gajas. Aqui vão eles:

 

O Normal

O Normal aprecia vários tipos de mulher, embora tenha o seu gosto pessoal. Pode, por exemplo, preferir loiras a morenas ou betinhas a freakalhocas, mas no entanto tem a capacidade de apreciar um voluptuoso corpo feminino mesmo que este não se enquadre nos seus cânones de beleza ideal. No que toca a comentários, o Normal emite as apreciações típicas –  “granda canhão”, “que gaja óptima” ou mesmo “olha lá aquele pandeiro” – num tom de voz adequado, dirigindo-as aos outros membros do seu grupo, numa óptica de chamada de atenção e partilha de opinião.

 

O Mudo

O Mudo tem preferências muito similares às do Normal. Ou seja, existem mulheres que prefere mas consegue apreciar de tudo um pouco. A grande diferença reside na comunicação, diferença essa ditada pela sua timidez ou por um respeito exagerado pelas mulheres. Deste modo, o Mudo não verbaliza a sua opinião com receio que alguma mulher que esteja nas imediações a oiça. Assim, opta pela sobriedade da linguagem não-verbal: dá uma cotovelada ou puxa a camisola apenas do seu companheiro mais próximo – para lhe chamar a atenção – apontando depois o objecto de apreciação com os olhos ou o queixo. É vantajoso permanecer ao lado de um Mudo pois, normalmente, este possui um olhar de falcão em relação às mulheres.

 

O Vocal

O oposto total do Mudo. É o tipo que tem pouco ou nenhum respeito pelas mulheres. Se tem preferências, estas são difíceis de entender, na medida em que ele tende a gritar, em alto e bom som, as suas apreciações a toda e qualquer mulher que passe à sua frente. O Vocal emite comentários não para avisar os seus companheiros, mas sim com a intenção de que as mulheres oiçam a sua opinião. Acha que ao comunicar o que lhes gostaria de fazer, elas ficarão encantadas e o convidarão, prontamente, para fornicar. Os comentários do Vocal incluem frases clássicas do imaginário javardo, como “contigo era até achar petróleo”, “rebentava-te essa bilha toda” ou “a ti metia-te a relinchar”. Se por um lado ter um Vocal no grupo pode envergonhar-nos, por outro lado é um elemento que contribui para a coesão grupal. É que o Vocal tende a esquecer-se que, ao emitir a sua opinião em voz alta, não são só as mulheres que a ouvem. Os namorados, maridos e amigos delas também. E isso conduz, muitas vezes, a um excelente serão de pancadaria, de onde nascem sempre épicas histórias grupais.

 

O Criativo

O Criativo tem preferências e gosta de observar mulheres mas não é esse o factor principal que o move. Ele já se cansou de ouvir os mesmo piropos, vezes e vezes sem conta, procurando agora desenvolver novas formas dos homens manifestarem apreciação pelas mulheres. O que o faz vibrar é a criação de frases originais no mundo do comentário às fêmeas, que provoquem choque ou nojo junto dos seus companheiros, algo que é muito apreciado no universo masculino. Aqui vão alguns exemplos: “uma noite comigo e ela ia precisar de fisioterapia para voltar a andar”, “fazia-te um filho pelo cú” ou “fazia-lhe a raspagem do útero com a picha”. É importante sublinhar que, os comentários desenvolvidos pelo Criativo que mais apreciação tenham no seio do grupo, passam a ser muitas vezes integrados no léxico do Vocal.

 

O Desviante

A comunicação do Desviante não está claramente definida, podendo oscilar entre o pólo do Mudo ou entre o polo do Vocal. O que o difere dos restante elementos é o facto dos seus gostos serem bastante peculiares. É aquele gajo que chama a atenção para uma mulher, sendo prontamente repreendido pelos seus companheiros com frases do tipo “Epá, tás maluco? A gaja não tem dentes!”. Mas o Desviante não se importa, replicando logo com “Exactamente! As desdentadas dão-me uma tusa descomunal!”. Os critérios que o movem são únicos, existem apenas no seu universo mental e são de difícil compreensão para os seus companheiros. Ele excita-se com o bizarro – estrábicas, obesas,  amputadas – e deleita-se com fetiches que ninguém partilha – tentar endireitar os olhos de uma estrábica através da cópula, mordiscar os cotos de uma amputada ou lamber a zona situada entre os pneus de uma obesa. O Desviante  é o melhor wingman que existe, pois não só não representa competição, como também é provável que coma a amiga disforme daquela gaja a que vocês se estão a fazer.

 

O Esquisitinho

O Esquisitinho é aquele tipo que tem os padrões demasiado elevados e que parece nunca apreciar totalmente nenhuma mulher. Ele é o hipster da apreciação de fêmeas. Enquanto os outros elementos têm diferentes preferências mas sempre vão manifestando o seu apreço por esta ou por aquela, o Esquisitinho consegue sempre arranjar defeitos nas mulheres. Se alguns dos defeitos que aponta são compreensíveis, como não gostar de mamas pequenas ou de  rabos demasiado grandes, a maior parte deles são forçados e ridículos. É habitual passar por ele uma mulher daquelas cuja beleza é consensual para qualquer homem, em qualquer parte do mundo, e ele emitir este género de comentários: “não gosto dos lóbulos das orelhas”, “tem uns cotovelos estranhos” ou “o dedo mindinho do pé esquerdo é demasiado encartilhado”. Mesmo que a própria Afrodite lhe aparecesse à frente, ainda assim não lhe encheria as medidas. Uma curiosidade interessante em relação ao Esquisitinho é que, apesar de passar a imagem que os seus critérios são muito apertados, apresenta uma tendência para apenas se envolver com mulheres tão hediondas que não interessariam sequer ao Vocal ou ao Desviante. 

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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