“Too little, too late” – Nuno Araújo

O Conselho Europeu da semana passada fez jus ao já algo conhecido ditado acerca da UE: “Too little, too late”, que é como quem diz “Muito pouco, tarde demais”. Só neste contexto simplista e minimalista da forma de conceber uma UE unida em direcção à derrocada a 28, é que se pode compreender o porquê de tão poucos avanços, e tardios, que saiem das reuniões em Bruxelas. Mas estes resultados deve-sem, sobretudo, à mestria de Angela Merkel, que tem os mercados usurários ao seu dispôr, na perspectiva de quem garante financiamento a juros zero para a economia do seu país, enquanto outros países periféricos pagam taxas vergonhosas, e só admissíveis numa teia financeira “sem eira nem beira”, mas que urge aos governos verdadeiramente socialistas democráticos e democrata-cristãos elaborarem uma intervenção ambiciosa. Cá estarei à espera para ver isso mesmo…sentado, pois claro!

Pois é, ainda não foi desta que a UE se sentou à mesa para decidir assuntos importantes e tomar medidas mobilizadoras e aguerridas no plano económico. Durou pouco mais de dia e meio o rol de negociações e conversas entre 28 estados-membros (que já incluem a Croácia, país recém-chegado à “família europeia”),

Os líderes dos governos da UE sentaram-se todos à mesa para decidir que seis mil milhões de euros será o montante dispendido, até 2020, para combater o desemprego dos jovens nos 13 países mais afectados pela crise. Ainda que mais dois mil milhões se possam acrescentar, consoante “a direcção do vento”, pouco ou nada se faz para resolver a catástrofe que assola mais de seis milhões de jovens europeus com menos de 25 anos, isto sem contar com todos os outros desempregados até aos 40 anos que inda vivem em casa dos pais…”too little, too late!”

Eventualmente será de realçar a assinatura de um acordo alargado sobre novas regras para resgates bancários. Esta medida parece ser uma manobra eleitoralista de Merkel, e que pretende apenas ter esse alcance; obviamente que não representa uma “viragem do leme do barco da UE” na direcção certa, isto claro tendo em conta o verdadeiro e ensurdecedor alarme social, económico, financeiro e político que soa pela Europa fora.

Falemos da principal resolução saída do Conselho europeu da semana passada, e que foi aprovada por Passos Coelho, naturalmente, pois nunca se iria arriscar a não seguir a sua mentora política, Angela Merkel. No projecto aprovado pela maioria dos governos dos 28 estados-membros presentes na reunião, a responsabilidade de um resgate bancário será do próprio banco; se esta decisão tem o seu quê de justiça, o seu contrário também poderá ser verdadeiro, naquilo que concentra em si a essência da crise: é que os tecnocratas europeus, não se apercebendo a tempo de que a fuga de capitais para offshores trouxe volatilidade nos mercados, decidem assim “culpar” os bancos pelas situações de crise, porque é mais fácil culpar os bancos do que “resgatar” biliões de euros sedeados em paraísos fiscais. Uma nota de apreço, no entanto, pela decisão que prevê que todos os depositantes com valores abaixo de 100 mil euros sejam protegidos pelas novas regras (só ainda não se sabe como…), e que os outros credores sejam directamente envolvidos nos necessários processos de ajustamento dos bancos em falência.

Isto não é mais do que uma desresponsabilização da UE em relação à situação financeira no “velho continente”. O “ataque” à crise passa por mais e melhores regras do sistema financeiro, por forma a controlar os mercados usurários; combater a existência de offshores seria ir muito mais longe no “ataque” à crise, mas isso é algo utópico, pois a Europa é, “por excelência”, sede de vários territórios offshores europeus, alguns conhecidos como o Luxemburgo, outros menos como o exclave de Campeone d’Itália.

Já agora…o que é que a Comissão Europeia decidiu em relação à Hungria de Viktor Orban? A panóplia de políticas subversivas efectuadas pelo governo húngaro, que inclui alterações várias na constituição e limitações à liberdade de imprensa e aos direitos de fazer oposição democrática ao governo, já vai longe demais…e isto passa-se no seio da UE! Que vergonha para a Europa!

No entanto, há novidades na forma como os players políticos se vão dispondo no “tabuleiro político” da governança europeia e mundial. Parece que a Troika se vai desmantelar, devido a uma cisão entre os dois lados do oceano Atlântico, UE e EUA, no essencial. Os conflitos são evidentes entre Bruxelas e Washington, sobretudo por divergências quanto a formas de abordar a chamada “crise do Euro”. Gerir correctamente todos os passos do resgate de Chipre é tarefa em que FMI e UE não se entendem, acima de tudo porque as opções da Comissão Europeia, quanto á resolução da crise cipriota passam, primordialmente, por “tirar dinheiro” (o mais possível) indirectamente aos aposentados e demais investidores de nacionalidade russa (que um pouco por toda a imprensa europeia se escreve que esses investidores lá “fazem autênticas lavagens de dinheiro”), algo que pode causar nada mais nada menos do que a pura e dura implosão da economia cipriota; mas a outra opção, repleta de austeridade, não será melhor, dado que tratando-se de mais uma receita de “cortes cegos”, “cozinhada pelos mercenários económicos” ao serviço dos mercados usurários, será um pacote de medidas bem similar ao que foi aplicado na Grécia, e que deverá trazer as mesmas consequências que na “terra de Platão”, um país verdadeiramente deprimido.

Também não compreendo porque motivo é que o programa Erasmus (de mobilidade dos estudantes universitários europeus) já não será subsidiado, mas antes facilitado através de crédito! Talvez isso, a par de uma série de outros motivos, explique a escalada da Frente Nacional, de extrema-direita, de Marine Le Pen, em França. É que o ódio de milhões de desempregados e demais precários e reformados face à UE começa a oferecer um caminho para os nacionalismos e neofascismos desbravarem, e com isso crescerem.

Há, no entanto, esperança, meus amigos: Angela Merkel e François Hollande conceberam juntos um documento que esboça um novo organigrama da Zona Euro, com cimeiras frequentes, existência de um presidente a tempo inteiro do eurogrupo, o reforço dos encontros ministeriais, a dinamização e ampliação dos poderes e funções do Parlamento Europeu, e a institucionalização de um fundo europeu para a competitividade. Com a recessão da Alemanha a surgir em vésperas de eleições (22 de Setembro), e os orçamentos de 2013 e 2014 aprovados, Merkel tem de efectuar diligências no sentido de resolver a crise na zona euro. E, registe-se, a incidência é nos problemas da zona euro, com os parceiros da zona euro. Face aos críticos da falta de legitimidade de agentes políticos não eleitos em Bruxelas, o documento também enfatiza que deve existir ”um controlo democrático e uma legitimidade apropriada ao processo de decisão europeu”, o que naturalmente, padece de propostas concretas.

Mas, a realidade é que dans la photo de famille, François Hollande paraît avec Martin Schultz…c’est bien! Passos Coelho est près de Angela Merkel…c’est trés mal!

 

PRIVATIZAÇÃO DA LINHA DE COMBOIOS DE CASCAIS EM 2014

O Jornal Expresso relatou, neste fim-de-semana que passou, que a privatização da linha de comboios de Cascais, actualmente gerida pela CP, irá ocorrer no máximo, até daqui a um ano. O fim da gestão pública da linha de comboios de Cascais abrirá uma oportunidade à concessão a privados da gestão dessa linha suburbana.

Mau demais para ser verdade. Eu sou contra a privatização da Linha de Cascais. Existem outros modelos de gestão que não passam, necessariamente, pela concessão total do serviço a privados. Defendo modelos que não ponham em causa o bom serviço público.

As pessoas devem estar primeiro, meus senhores e minhas senhoras do governo! Lá por não se privatizar a TAP, não significa que se deve privatizar toda e qualquer empresa estatal! As pessoas devem valer mais do que números!

A linha de Cascais abrange três concelhos: Cascais, Oeiras e Lisboa. É uma linha de comboios suburbanos inserida numa das zonas mais dinâmicas do país, com um fluxo de passageiros colossal, isto quando se comparam os valores referentes ao número de passageiros transportados anualmente.

No entanto, é uma das linhas com maior necessidade de obras de beneficiação das suas infraestruturas e material circulante. Como tal, e até porque a CP não irá efectuar qualquer investimento no sentido de melhorar esses aspectos, a privatização é o futuro mais que certo para a linha de Cascais. O seu potencial não deixará indiferentes certamente o Grupo Barraqueiro, actual detentor da Fertagus, empresa concessionária da linha de comboio da Ponte 25 de Abril.

Seria, obviamente, do interesse público saber quais as posições defendidas por cada um dos candidatos às Câmaras de Cascais, Oeiras e Lisboa, já que a vida de dezenas de milhares de cidadãos prende-se, em muito, com a qualidade do verdadeiro serviço público prestado pela CP, ao gerir este troço ferroviário.

 

ELEIÇÕES NOS PELOURINHOS 2013

As eleições autárquicas estão a menos de três meses de distância, e no entanto os “dinossauros” políticos continuam a não aceitar que a lei é igual para todos. Quero com isto dizer que quem já cumpriu o máximo de três mandatos previstos na lei não deverá poder candidatar-se nesta eleição autárquica.

Fernando Seara, em Lisboa, recorreu da decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, e o Tribunal Cível, desta vez, entendeu não ser competente para decidir o caso, recusando assim dar seguimento à acção principal lançada pelo Movimento Branco, conhecido já pela sua “batalha” pela impugnação de candidaturas de alguns dos chamados “dinossauros autárquicos”. Pode ser que Fernando Seara e o PSD consigam “ir a votos” em Lisboa…quiçá para não perder de forma clamorosa, de resto como evidenciaram algumas sondagens vindas a público.

Ainda falando do “parque jurássico” português, refira-se que no Porto, Luís Filipe Menezes sofreu mais um revés (o segundo revés) relacionado com a segunda decisão desfavorável a uma candidatura do ainda presidente de Gaia à câmara do Porto. O PSD vê assim Menezes perder numa acção judicial que questionava a legitimidade do Movimento Branco poder impugnar, ou não, candidaturas autárquicas.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana