União Europeia, política, bancária e monetária – Nuno Araújo

União Europeia, política, bancária e monetária”

A passada Quinta-feira, 28 de Junho, foi um dia para Angela Merkel esquecer. A sua “mannschaft” perdeu com a “Squadra Azurra” italiana no Euro 2012, e Mario Monti, provavelmente confiante pela vitória da equipa da sua Itália, juntou-se ao presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy decidiram fazer um ultimato a Merkel. Os dois finalistas do Euro 2012 em futebol conseguiram impôr financiamento directo dos bancos ao MEE (Mecanismo Europeu de Estabilização), sem que os Estados sejam chamados a serem fiadores desses mesmos financiamentos. Ao mesmo tempo, os Estados pedem empréstimos aos bancos sem estarem sujeitos às “loucas” taxas de juro existentes nos mercados, exceptuando a Alemanha, que até recebe juros ao vender a sua dívida pública.

Uma derrota “estratégica”

A par desse enorme passo em frente, que foi a cedência de Merkel para financiamento a bancos sem que se exija a austeridade vista cá em Portugal, ou na Grécia, diga-se que o plano de 120 mil milhões de euros, a serem injectados na economia europeia, é também um bom plano, ainda que continuem a não ser conhecidos os promenores práticos da aplicação do mesmo. Mas sobressai sobretudo a mudança face ao paradigma anterior, que impunha receitas de austeridade em troco de empréstimos.

Aquilo que a Alemanha empresta, ganha posteriormente em juros. Preverso? Pois claro, senão vejamos: a Alemanha vende dívida pública, e o grau de especulação de que os países como Portugal ou Irlanda não pagam dívida é tão alto, que até os investidores pagam juros para obterem esses títulos de dívida soberana alemães. São, provavelmente, títulos “de refúgio”, pois é tido como investimento seguro, sem risco, apostar na dívida alemã. Quem investe certamente será ressarcido da sua aposta na Alemanha.

Europa sem líder

Se anteriormente às eleições francesas tínhamos um eixo Merkel/Sarkozy, hoje em dia temos Hollande versus Merkel, e, por outro lado, Rajoy e Monti. Este estdo de coisas não é mais do que uma reconfiguração do plano de forças da UE e, não tardaremos a reparar, que isto só potenciará a integração europeia. Merkel sabe que não terá de se expôr muito mais do que aquilo que já fez, e não terá de liderar uma UE que não a quer como líder. Merkel disse que, “enquanto for viva”, não vai querer partilhar a responsabilidade da dívida dos estados europeus, e desse modo parece que não vai querer tentar provar ter razão em não querer Eurobonds. Mas o seu argumentário está cada vez mais fragilizado…

François Hollande, que mudou verdadeiramente o estado de coisas na UE, sabe que é uma questão de tempo até a UE começar a inverter a tendência de crise da sua divisa, até porque as eleições norte-americanas vão, concerteza, “incendiar” os mercados americanos e asiáticos, e será a UE que irá rir por último. As influências republicanas nos mercados face às influências democráticas vão abrir espaço para que, ainda no final deste ano, já tenhamos os primeiros sinais de crescimento a surgir. É apenas uma questão de tempo até a crise europeia começar a findar.

A união bancária europeia irá contrastar com a falta de mecanismos de surpervisão eficazes nos Estados Unidos de Obama. Uma supervisão eficiente aos bancos na UE irá promover a confiança que existe nos Estados Unidos mas ainda com muitas dúvidas: é que Obama não mudou nada do sistema que ele criticou mas que deu início a esta crise em 2008, ainda sob a égide de George W. Bush. E os bancos e as agências de rating, que iniciaram ou não conseguiram prever (ou não anunciaram de antemão) esta crise, não podem dar lições de boa gestão aos europeus.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana