Vamos Falar do Cansaço – Carla Vieira

Eu não sei se já dei a entender, mas gosto de escrever as crónicas com algum tipo de antecedência. Não só asseguro a minha pontualidade mas também evito escrever sobre assuntos que dão nas notícias e que me fazem ferrar as mãos de nervos; deixo esse tipo de assuntos para outros mais habilitados do que eu. Eu falo de coisas menos importantes.

Portanto, embora hoje seja Terça, para mim é Domingo. É Domingo, estou a escrever a crónica e sinto-me sinceramente desgastada. Tanto é que abri o Word e dei por mim especada a olhar para a página em branco sem conseguir mexer os dedos… E aliás, nem sabia sobre o que escrever. Recuso-me a falar das teorias do fim do mundo e o tiroteio naquela escola americana é exactamente o tipo de coisas as quais não me sinto preparada para escrever. E portanto olhei, olhei, olhei… E só conseguia pensar no quão cansada estou.

Mas então se é assim que estou, por que não escrever sobre isso?

Já alguma vez se sentiram tão cansados sem fazer nada que parece que acordaram com o peso do mundo em cima dos ombros? Já saíram do emprego ao fim do dia estourados só para se perguntarem como é isso possível, se o vosso emprego nem é assim tão desgastante? E nem vou falar naqueles dias em que não têm nada para fazer e ainda assim vão para a cama mais cedo só com a esperança de que o próximo dia venha depressa.



Ando a ter alguns dias assim. Nada na minha rotina mudou muito, os dias são sempre os mesmos; no entanto, o cansaço anda a aumentar progressivamente e claro, tem as suas repercussões.

Nós sofremos de dois tipos de cansaço: o cansaço de não dormir, e o cansaço mental.

Quando tenho falta de horas de sono, é muito fácil lidar comigo. É deixarem-me falar e ignorarem as minhas piadas e gargalhadas despropositadas. Já não é a primeira vez que confundem o meu cansaço com bebedeira porque sim, até falta de equilíbrio me afecta. Se vos parecer bêbeda, acreditem que não estou (até porque não bebo, e álcool é um requisito deveras importante para o acto de ficar bêbado). Dêem-me uma cama e acordem-me às quatro da tarde e estou pronta para outra.

O outro tipo de cansaço já é algo não se cura com uma noite bem dormida, mas talvez só por hibernação se vá lá. É dormir doze horas e acordar exausto, é querer companhia mas querer estar sozinho ao mesmo tempo, é mandar tudo ao ar porque não se tem cabeça para rigorosamente nada. É discutir por coisas parvas, é aquela sensação irritadiça de que há qualquer coisa que não está bem mas nem nos apercebemos que somos nós que estamos mal cá dentro.

É nesse estado que estou hoje, e da maneira como Dezembro me costuma tratar, suponho que tenha de me habituar a isto. É por estas e por outras que não há nada como saltar o stress do natal à frente e passar já para Janeiro.

Até para a semana, porque para a semana é Natal.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente