Liliane Marise, personagem de sucesso de «Destinos Cruzados»

Vamos falar de telenovelas – Rogério Medeiros

Vamos falar de telenovelas e não será pela sua escassez no panorama televisivo que este artigo ficará cerceado. Nos canais generalistas passam quinze novelas por dia. A SIC e a TVI estão empatadas, com a transmissão de seis cada. E a RTP1 tem no ar três. Telenovelas portuguesas e brasileiras, que passam a diferentes horários.

Recentemente, terminou Dancin’ Days, um marco na TV, pois que pela primeira vez foi destronada a primazia da TVI neste género. Uma novela que, até certo ponto, acabou sendo uma lufada de ar fresco, mas que a determinada altura começou a arrastar-se interminavelmente até atingir uns 340 esgotantes episódios, esgotantes para a equipa e esgotantes para os telespetadores. Deixei de seguir a trama há um considerável tempo do fim, numa fase em que a produção se prolongava num ramerrame exaustivo. Acredito que na fase final tenha sido diferente e o ritmo se tenha alterado.

Simultaneamente, deu-se a entrada de «Sol de Inverno». Sobre esta novo trabalho não me vou pronunciar, pois não o tenho acompanhado. Tenho assistido à produção rival «Belmonte», que no seu dia de estreia (22 de setembro) teve 1,5 milhões de espectadores, talvez também muito por conta do final de «Dança com as estrelas» que veio logo a seguir, mantendo as pessoas à espera da gala.

Tem-me interessado o enredo que se baseia no quinteto de irmãos João, José, Carlos, Pedro e Lucas. (Os também cinco irmãos de «Sol de Inverno» não me entusiasmam tanto.) Um trabalho que de início fez contrastar Estremoz, no Alentejo, e o Pantanal, no Brasil. Para além do clima – o calor seco da herdade e o calor húmido da fazenda, aí se desenrolavam as vidas contrastantes e paralelas de Emílio Belmonte. No Brasil, tinha uma mulher e uma filha. Em Portugal, era um viúvo com os cinco filhos.

Parece-me visualizar um tema da novela que será o alcoolismo no feminino; por outro lado, recicla-se a personagem do Padre Amaro, que suscita paixões – a ver vamos se comete «crime», e volta a pairar como em muitas produções deste género o tema do incesto. Temos um casal de hippies, defensores de um modo de vida alternativo, ele contra toda a forma de imperialismo e capitalismo, ela rastafári. Será esta a ficção a tomar o lugar de «Destinos cruzados», que já atingiu os 190 episódios. Destaque para o belíssimo tema do genérico, entregue à voz de André Sardet.

Coincidente com a maior visibilidade e aceitação social do fenómeno da homossexualidade em Portugal, há três novelas nacionais retratando personagens gay («Os nossos dias», na RTP1, «Sol de Inverno», na SIC e «I love it», na TVI). Não que o tema faça a sua estreia no prime-time, já tivemos outros casos, nomeadamente o do até agora único casal lésbico.

No período do final da tarde, deixa saudade «Cheias de Charme», espaço agora ocupado por «Sangue bom». Esta novela parece não apostar tanto na comicidade sempre presente nas predecessoras, nomeadamente «Fina Estampa» e «Morde e Assopra».

No entanto, é interessante notar como em «Sangue bom» estão presentes cinco atores que já acompanhávamos em «Cheias de Charme»: Isabelle Drummond, uma das então três protagonistas, Humberto Carrrão, Jayme Matarazzo, Daniel Dantas e Sérgio Malheiros. De «Fina Estampa» transitam também para este elenco Marco Pigossi e Sophie Charlotte, que voltam curiosamente a fazer par romântico. E recuando a «Morde e Assopra», outro dos resgatados é Joaquim Lopes.
Será difícil voltar a ter um mordomo e assistente pessoal tão credível quanto Crô de «Fina Estampa», sobretudo se o compararmos com o Vává de “Destinos Cruzados” da novela da TVI. Se bem que Liliane Marise, corporizada por Maria João Bastos, retrate de forma tão convincente o universo das estrelas musicais populares quanto Chayene, as Empreguetes e Fabian de «Cheias de Charme» retratavam.

 

Rogério MedeirosLogoCrónica de Rogério Medeiros
O Pequeno e o Grande ecrã
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