“Ventos franceses de mudança” – Da Ocidental Praia Lusitana

Escrevo esta crónica Sábado, dia 21 de Abril, véspera da 1ª volta das eleições presidenciais francesas. Mas, calculo eu, a vitória de François Hollande não deverá escapar aos socialistas franceses, dadas as últimas sondagens (datadas de 20 de Abril).

Mas porquê o título escolhido? Passo a citar o Partido Socialista francês, havendo seis razões para tal:

1. Porque Hollande está pronto para presidir França,

2. Porque irá unir os franceses,

3. Porque irá restaurar a justiça,

4. Porque actuará pelo poder de compra,

5. Porque se baterá por retomar o crescimento e criação de emprego,

6. Porque dará confiança no futuro.

E estas seis máximas da campanha do PS francês são as minhas seis razões para assinalar que esta primeira volta das eleições, com a vitória de Hollande, trará ventos de mudança. A segunda volta, a 6 de Maio, dará mais certezas quanto a isso mesmo.

A Europa irá, certamente, beneficiar da vitória socialista em França. Sarkozy, passou de “presidente dos franceses que acordam cedo” para “presidente dos ricos”, e isto mesmo foi alvo de bastantes críticas da oposição durante a campanha eleitoral. Com uma possível derrota de Sarkozy, a receita com ele realizada por Merkel cairá por terra, até porque Hollande já afirmou que, se ganhar as eleições, irá renegociar o Tratado Orçamental Europeu (já abordado por mim na crónica da semana transacta). E com a queda de tamanha atrocidade para o presente e futuro da União Europeia e Zona Euro (com Portugal “no fio da navalha”), dar-se-à início, certamente a um novo capítulo da história europeia.

François Hollande conta com o apoio de toda a esquerda para a segunda volta das eleições, sendo que já afirmou que irá contar com todos aqueles que o apoiarem para essa eleição. Isto significa que comunistas, ecologistas e extrema-esquerda estarão ao lado de Hollande num futuro executivo governamental, o que irá, só por si, mudar (e muito, creio eu) o panorama da política europeia. Com efeito, a França não quererá formar mais par com a Alemanha, que assim não pode dançar o “tango dos mercados” sozinha.

Os franceses são uma das democracias mais antigas do mundo inteiro. Têm um notável sistema representativo, democracia que funciona em pleno, as instituições sempre se quedaram pela funcionalidade, e o povo vive rodeado de cultura e multiculturas. Os franceses enviam, com a vitória de Hollande, uma mensagem à União Europeia (Portugal incluído): os franceses não se querem reformar aos 62 anos, mas sim aos 60; não querem austeridade para mais desemprego e mais crise.

“Parce qu’aujourd’hui le premier emploi des jeunes c’est le chômage, il faut redonner confiance dans l’avenir”, ou seja, “Porque hoje o primeiro emprego dos jovens é o desemprego, é preciso restaurar a confiança no futuro”. Tenhamos confiança. E esperança. A mudança começou agora, minhas senhoras e meus senhores.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana